Como se não bastassem as fake news e os robôs que propagam inverdades nas redes sociais, o Brasil — da banana (o fruto), de Carmem Miranda, terra do samba e pandeiro, da mãe preta do cerrado, do congado e de Nosso Senhor — também se tornou motivo de escárnio no exterior e de preocupação ante o vilipêndio à imprensa. O desprezo é arma ante perguntas incômodas e indigestas. O papel do jornalista é esse: expor mazelas e questionar sobre malfeitos das autoridades. Nos últimos 13 meses, repórter passou à condição de inimigo; grandes veículos de comunicação se tornaram “esquerdopatas”; “notícias falsas” ganharam status de valorização em redes sociais alimentadas por bots (robôs).
A liberdade de imprensa e de expressão começou a erodir em nome de um projeto de governo com forte viés ideológico-religioso. O que aconteceu com a jornalista Patrícia Campos Mello na CPI Mista das Fake News, no último dia 11, foi um acinte e um absurdo. Ontem, cometeu grave ofensa sexual contra a repórter, ao afirmar que ela queria “dar o furo a qualquer preço”. Um relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apontou aumento de 54% em ataques a jornalistas e a veículos da imprensa, no ano passado. O mesmo documento denunciou o empenho do governo em minar a credibilidade do jornalismo. Enquanto isso, fake news são disparadas a esmo por meio do WhatsApp, abastecendo de desinformação grande parte da sociedade brasileira.
Aliás, quando toda a sociedade brasileira estiver amordaçada, de nada adiantarão choro e ranger de dentes. O respeito ao jornalismo profissional deve ser a peça-chave de qualquer modelo democrático. É aquele velho ditado: “Quem não deve não teme”. Não tem medo de perguntas e não precisa recorrer a bananas ou outras ofensas para evitar respostas. O Brasil tem primado pela liberdade de imprensa nas quase quatro últimas décadas. Que a liberdade abra as asas sobre todos nós e possamos preservar o Estado de direito e os direitos civis.