Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou servidores públicos a “parasitas”, imaginei que era de caso pensado: tirar a reforma administrativa do radar. Ora, a proposta é um prato cheio para a oposição em ano eleitoral. E, por igual mesmo motivo, também representa um bode na sala para deputados e senadores. E até para o próprio governo. Sem contar que há outras duas propostas, a PEC Emergencial e o Pacto Federativo, já em discussão no Congresso, que também mexem com o funcionalismo público e são muito mais importantes para o ajuste fiscal.
Logo, a provocativa e infeliz declaração de Guedes me soou tática. Afinal, tudo empurrava o Planalto para a obrigação de encaminhar logo a PEC da reforma administrativa. Um exemplo: pesquisa feita pelo Datafolha constatou que, aos olhos da população, a imagem dos servidores públicos não é das melhores. Nada menos que 91% dos entrevistados defendem que eles tenham o trabalho constantemente avaliado e que sejam recompensados de acordo com o desempenho. Mais: 88% apoiam a demissão de funcionários públicos maus avaliados.
Por isso, o ataque gratuito, incluindo bons e maus servidores no mesmo balaio, não fazia sentido. A menos que a intenção fosse criar um grande mal-estar, para inviabilizar a proposta de mudanças administrativas por enquanto, e centrar fogo na reforma tributária, que é, sem dúvida a mais urgente.
Além do mais, todo mundo sabe que, em ano de eleições, as excelências costumam deixar o Congresso ao léu no segundo semestre do ano. Logo, o foco total na PEC que pode tirar o país das trevas no sistema de cobrança de impostos, e mais importante para ajustar as contas do Estado depois da reforma da Previdência, era o que estaria por trás da fala do ministro da Economia.
Aí, na sequência, veio a preconceituosa agressão às empregadas domésticas. Essa, não deixou dúvida: Guedes parece haver entrado na mesma vibe do presidente, que deve ter estranhado a concorrência. Dessa vez, nem o mercado perdoou. Não fosse a rápida reação do Banco Central, o dólar poderia estar rondando os R$ 4,50% já na última sexta-feira. É Febeapá demais para uma economia que ainda não conseguiu se recuperar sequer dos estragos causados por Dilma. Assim como a petista, parece que Guedes conseguiu “dobrar a meta”. O Brasil não merece.