“Papai, como era a internet quando você era adolescente?”, perguntou-me o meu filho. Eu me lembrei na hora da angústia ao esperar a conexão discada estabelecer contato com o provedor, do ruído incessante que saía do computador até que a ligação com o servidor fosse estabelecida. WhatsApp era algo inimaginável. A gente se contentava com o IRC e, anos depois, ficamos maravilhados com o Orkut. “Existia smartphone na sua época de criança?”, também me questionou. Respondi-lhe que os celulares eram caros e quase do tamanho de um tijolo, tinham uma antena horrorosa e as únicas funções deles eram falar e ouvir o interlocutor. As coisas mudam e evoluem; as pessoas, muitas vezes, permanecem estagnadas ou regridem em seus dogmas e com seus preconceitos.
Não é muito difícil perceber isso quando autoridades tratam o soropositivo como despesa para o Estado ou quando se referem a afro-americanos com o termo “arrouba”. Dia desses tive a curiosidade de ler comentários de leitores em sites de notícias sobre o nascimento do bebê de Thammy Miranda, filho da cantora Gretchen. Estarreceram-me argumentos rasteiros, carregados de preconceito e de ódio. Como se a orientação sexual ou a condição de transgênero do próximo pudessem ser revertidas ou modificadas por imposição. Em outras notícias sobre casais homoafetivos, a mesma ira despejada. Algumas pessoas chegavam a publicar versículos da Bíblia para validar sua discriminação. Como se suas crenças religiosas moldassem o modo de ser do outro. Como se elas pudessem determinar a felicidade alheia e até mesmo a vida mais íntima do próximo.
O mesmo ódio pernicioso tem sido despejado contra asiáticos e descendentes por conta da epidemia de coronavírus. Essa parcela da população começa a enfrentar o preconceito vivido pelos soropositivos desde quatro décadas atrás. Nunca pensei que o Brasil fosse tão conservador e atrasado em tantos pontos. Quem discorda das mixórdias e do discurso intolerante das autoridades é tachado de “esquerdalha” ou “esquerdopata”. Como se qualquer posição mais progressista e aberta ao mundo merecesse um rótulo politico-ideológico. A imprensa virou inimiga do poder por desempenhar o seu papel. Jornalista passou a ser execrado por parte da opinião pública.
Saudades do passado onde o barulho da conexão discada era maravilha tecnológica. Saudades de um tempo em que a excrescência do ser humano permanecia ao menos interiorizada, sem “aflorar” racismo, homofobia, truculência, ignorância, perversidade e ódio. Penso muito no futuro que estamos construindo para os nossos filhos. No país que moldamos com as nossas ideologias e as nossas escolhas. Como viver em uma nação onde a intolerância é norma? Como buscar o respeito e a igualdade de tratamento quando desprezo e arrogância correm à solta? As coisas mudam, evoluem. As pessoas também podem evoluir. Bastam uma mentalidade mais aberta para o mundo, o respeito às diferenças e a compreensão de que todos somos iguais. Todos partilhamos de sonhos, desejos, frustrações e de esperança de um planeta melhor.