Quando meu governo assumiu a CEB, em 2015m encontrou uma empresa em situação critica. Quem disse isso foi a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o órgão regulador do setor elétrico, e o Tribunal de Contas da União (TCU), ao analisar a performance das empresas distribuidoras de energia elétrica no Brasil. Em fevereiro de 2015, a Aneel sentenciou: “a situação da empresa é insustentável sob o ponto de vista econômico-financeiro”. Essa conclusão decorria de duas fortes afirmações: 1) “os gastos operacionais gerenciáveis excedem o valor da parcela B (valor estipulado pelo órgão regulador para despesas operacionais, sobretudo despesas de pessoal) ou estão próximos”; 2) “a geração de caixa é incompatível com as necessidades de investimentos e endividamento”.
O TCU, em setembro de 2015, afirmou: 1) “a CEB está entre as seis concessionarias que descumpriram simultaneamente as metas de qualidade nos últimos três anos consecutivamente” e 2) está entre as nove empresas que não possuem capacidade financeira para sequer investir na reposição anual de ativos depreciados, muito menos para realizar investimentos para a elevação da qualidade a níveis minimamente aceitáveis.”
Nomeamos profissionais capacitados e experientes na gestão empresarial para tocar o negócio com total liberdade e sem ingerências políticas.
Como resultados efetivos no meu governo, conseguimos apesar das dificuldades intrínsecas: 1) atingir no terceiro ano de governo todos os índices de qualidade exigidos pela Aneel; 2) renovar, junto ao órgão regulador, a concessão da companhia por mais 30 anos; e 3) em 2018 fomos premiados em primeiro lugar na Argentina disputando com 53 empresas de 14 países da América Latina com a menção especial à maior evolução do índice de satisfação do cliente com a qualidade percebida.
Tínhamos a questão importante do endividamento da empresa para equacionar. Situação crítica que depreciava a CEB e drenava os recursos para investimentos.
Nossa estratégia, aprovada em dois turnos na Câmara Legislativa do DF (CLDF), foi a de alienar as participações financeiras da CEB Holding — estimados, à época, em R$ 600 milhões — e aplicar integralmente os recursos, como também aprovado pela CLDF, na CEB Distribuidora para abater grande parcela da dívida. Isso apreciaria o ativo e a empresa começaria a liberar recursos para investimentos. Estimávamos, na ocasião, investimentos necessários de algo como R$ 700 milhões em cinco anos.
Infelizmente, não houve tempo de concluir o projeto, que foi repassado como contribuição aos novos administradores no começo de 2019. Entregamos uma empresa muito melhor do que recebemos. Isto é fato!
Agora vemos pela imprensa uma estratégia diferente. Vender a distribuidora endividada mantendo as participações financeiras da holding e suas indicações políticas. A quem interessa essa abordagem?
Convém realçar que na CEB Holding e nas suas participações não existem empregados da CEB. Todos os empregados são da distribuidora. Ou seja, no nosso primeiro movimento não haveria demissão de nenhum empregado da CEB. Lembro de ter perguntado ao presidente da CEB, no meu governo, se deveríamos vender a companhia. Ele me respondeu de pronto: “um ativo deve ser primeiro apreciado para só depois ser tomada a decisão de aliená-lo ou não”.
Querem agora vender um ativo depreciado com um passivo, dizem ser, de R$ 1 bilhão atualmente, mantendo as participações financeiras. O curioso é que a distribuidora, segundo seu administrador principal, vale R$ 900 milhões, tem um passivo de R$ 1 bilhão e, agora, a Aneel exige um aporte para investimentos de R$ 500 milhões para manter a concessão. Um nítido atestado da incapacidade da companhia de gerir a concessão. Muito triste.
A pergunta que fica é: quanto vale uma companhia com esse perfil? Fica claro que querem vender a CEB para se livrar, na bacia das almas, de um problema sem o mínimo respeito à população de Brasilia. Uma pena!