Opinião

Sejamos humildes


Há milhares de anos, os seres humanos contemplavam o céu escuro salpicado de pequenas luzes, conviviam com o dia e a noite, admiravam o luar e emitiam conceitos, por exemplo, que a terra era plana. A astronomia pode ser considerada como a mais antiga das ciências. Os registros astronômicos mais antigos datam de aproximadamente 3000 a.C e se devem aos chineses, babilônios, assírios e egípcios. Os astros eram estudados com objetivos práticos: construção de calendários para prever a melhor época para o plantio e a colheita e como fazer previsões sobre o futuro (astrologia). Os povos antigos acreditavam que os deuses do céu tinham o poder da colheita, da chuva e mesmo da vida.

A astronomia, a astrofísica e a cosmologia tiveram um grande desenvolvimento nos últimos séculos. Apesar disso, sabemos muito pouco sobre o universo. Segundo a astrônoma Catherine Heymans da Universidade de Edimburgo (Escócia), “não sabemos nada de 95% do universo, tudo o que sabemos, da matéria que forma os planetas, as estrelas nas galáxias, a matéria normal da qual somos feitos, somam menos de 5% de tudo que há aí fora”. Diante dessa imensa ignorância e absoluta insignificância, por muitos séculos a civilização humana se autotitulou como única e estabeleceu que nosso planeta era o centro do universo e premiado com a vida. Segundo a astrônoma chilena Maria Teresa Ruiz: “Seria muito estranho se não houvesse vida em outros planetas, havendo tantas estrelas na galáxia e tantas galáxias no universo. Os grandes telescópios do mundo vão começar a abrir os olhos para achar planetas fora do nosso sistema solar, e isso vai mudar a nossa visão sobre a humanidade, porque uma coisa é suspeitar e outra muito diferente é comprovar”.

A noção de uma existência limitada e o mistério da morte são uma questão bastante primitiva. Sabemos que nossos parentes neandertais já realizavam enterros rituais, algo que revela um sentido da morte e uma preocupação com o que acontece depois dela. As religiões surgiram para ajudar o ser humano a enfrentar inquietações para as quais a ciência não tem respostas ainda ou para as quais as respostas da ciência não são suficientes.

Dos setes pecados capitais (gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade), talvez essa última seja a precursora de outras facetas da imperfeição humana. Entre elas o sentimento de posse material, de poder e da arrogância. O ser humano é tomado por uma cegueira e surdez que torna invisível o seu semelhante e não ouve os sons e conceitos que definem a ética.

A civilização humana é estranha. Sua história permeada por guerras, atrocidades, violências, preconceitos e outras mazelas não é motivo de orgulho. O horizonte imediatista de um capitalismo selvagem está esgotando os recursos naturais do planeta, colocando em risco as diferentes formas de vida, inclusive a humana.

O que fazer? Vamos pensar menos no eu e pensar mais nos outros. A família humana é única. Devemos nos considerar todos como irmãos. Nenhum ser humano merece sofrer ou ter fome. Vamos colocar nossa vaidade em uma fogueira e transforma-la em fumaça. Vamos fazer o bem, por exemplo, ajudando alguém a sair das ruas tendo um teto, comida e roupas. Vamos ajudar alguém a se capacitar para conseguir um emprego que lhe permita ter uma vida digna. Vamos também ajudar as pessoas a encontrarem caminhos para enfrentar impactos emocionais que as impedem de serem socialmente ativas e positivas. Vamos adotar a bandeira da solidariedade que segundo Franz Kafka é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. Vamos transformar esse mundo egoísta, consumista e individualista e vamos trabalhar para a uma nova construção social que permita a todos conquistar a felicidade. Vamos conquistar uma paz permanente. É pertinente lembrar a frase de Pablo Picasso: “Minha maior esperança é que meu trabalho contribui para impedir novas guerras no futuro”. Vamos salvar nossa civilização, a nossa aventura humana agora. Vamos relembrar o pensamento de Renato Russo: “A humanidade é desumana, mas ainda temos chance... o sol nasce para todos, só não sabe quem não quer”. E também o que disse Confúcio: “A humildade é a única base sólida de todas as virtudes”. Sejamos todos humildes.