Combate à dengue
Em tempos de chuvas fortes e constantes como vêm ocorrendo no país, sobretudo na Região Sudeste, o avanço da dengue, que já bate recordes nas estatísticas do Ministério da Saúde, é uma realidade que assusta as autoridades sanitárias. As precipitações pluviométricas muito acima do normal, neste início de ano, têm como umas das principais causas, na avaliação da comunidade científica e de ambientalistas, o aquecimento global. É certo que temperaturas altas e chuvas são fatores que propiciam a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como o vetor Aedes aegypti, responsável pela disseminação da dengue, chikungunya e zika.
Inquestionável que os impactos da crise climática da atualidade são vários e cada vez mais perceptíveis. A elevação dos termômetros em todo o mundo vem acompanhada de inúmeras consequências de grande impacto no meio ambiente, como o aumento do nível dos oceanos, desertificação de vastas áreas do planeta, intensificação das queimadas — as mais recentes aconteceram na Austrália e Califórnia, sem contar as do ano passado na Amazônia — e o derretimento das geleiras polares. Isso tudo somado à criação de condições ideais à proliferação de mosquitos transmissores de enfermidades.
A elevação dos termômetros, juntamente com o desmatamento descontrolado e a expansão desordenada dos centros urbanos, está ligada à migração dos vetores para as cidades, locais ideais para o surgimento dos berçários do inseto. O estudo Contagem regressiva sobre a saúde e as mudanças climáticas, elaborado com a colaboração da Organização Mundial da Saúde (OMS), comprova que o aumento pluviométrico eleva o número de criadouros com as condições ideais para o desenvolvimento das larvas dos mosquitos e gera as condições ambientais apropriadas para o alastramento dos insetos adultos. O levantamento revela, ainda, que, em 2019, mais de 2,7 milhões de casos de dengue foram registrados na América Latina, com mais de 1,5 milhão notificados pelo Ministério da Saúde.
Outro fator responsável pela progressão da dengue, chikungunya e zika é a falta crônica de saneamento no país. A relação entre saneamento básico e a saúde da população vem da Grécia Antiga, quando Hipócrates, pai da medicina moderna, já dava instruções de higiene para os médicos da época. É milenar o conceito de que o acúmulo de sujeira e de dejetos está associado ao aparecimento de enfermidades.
No Brasil, hoje, são mais de 50 milhões de pessoas sem acesso a água tratada e mais de 100 milhões sem coleta de esgoto, o que acaba provocando grave prejuízo aos cofres públicos. Está comprovado que cada R$ 1 investido em saneamento gera uma economia de R$ 4 na área de saúde. Mais um motivo para que os governantes realmente implementem o marco regulatório do setor, recentemente aprovado pelo Congresso. Não se pode mais conviver com esgotos a céu aberto e lixões que contaminam o meio ambiente e causam doenças à população. Esses tempos têm de ficar para trás.