“Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.” Muitos de nós, na altura de nosso egocentrismo, não seguimos à risca as palavras da poetisa Cora Coralina. Gastamos tempo demais pensando no ter e abandonamos o ser. Traímos ideais e sonhos de uma vida suave e simples em troca de dinheiro e poder. Mas também não percebemos que o poder é efêmero, tênue e passageiro. Vivemos sem nos importar com o modo como seremos lembrados por nossos entes queridos, filhos, netos e bisnetos. No alto de nossa prepotência e arrogância, acreditamos que nossos dogmas são verdades absolutas e únicas, e desprezamos as crenças e as convicções alheias. Impomos rótulos a outros seres humanos e os espezinhamos por causa da orientação sexual, cor da pele, inclinação política ou ideologia de gênero.
Tantas vezes nos esquecemos de que, ainda que nos julguemos melhores do que o outro, no fim de tudo todos seremos igualados. A morte é a única certeza inexorável da vida. Após o último suspiro, dinheiro, opulência, ganância, nada disso mais importará. O túmulo é o destino comum a todos nós. Podemos até deixar herança, patrimônios e bens para nossos filhos, mas a nossa memória será o nosso maior tesouro. Talvez seja mais fácil viver e morrer na dignidade a abandonar o palco dessa vida sem deixar saudades. É mais fácil tratar o próximo com respeito e igualdade do que se acomodar sobre um trono que não existe e se sujeitar a uma queda inesquecível.
Precisamos perceber a finitude da vida. “Se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não percam o agora”, escreveu o poeta argentino Jorge Luis Borges, um ano a antes de morrer, aos 86 anos, em 1986. A vida é feita de instantes, e talvez o próximo segundo não mais exista para alguns de nós. A trágica morte de Kobe Bryant, lenda da NBA, nos ensina muito sobre a fragilidade da vida. Foi ela que me impulsionou a escrever estas linhas.
Confesso que pensei em divagar sobre a falsa perspectiva de paz no Oriente Médio, sobre a consolidação do Brexit (divórcio entre Reino Unido e União Europeia) ou sobre os desatinos de nossa política. Fiquei impactado com a partida de “Mamba” e de sua filha, de apenas 13 anos, quando o helicóptero que os levava a uma partida de basquete caiu na Califórnia, no último domingo. O acidente me fez pensar sobre tudo o que escrevi nas linhas anteriores. Que todos possamos, ao apagar das luzes, deixar uma boa impressão.