Opinião

Visto, lido e ouvido




Milícias, uma questão a ser enfrentada

É sabido que os extremos, por força de uma repulsão até imaginária, acabam se tocando. Caso conhecido por nós e por muitos desse fenômeno, que pode até não ter uma explicação racional na física quântica, mas encontra seu exemplo mais perfeito no caso das milícias, formadas por policiais e ex-policiais que passam a agir como justiceiros por conta própria, com seu próprio código de conduta, atuando como verdadeiros criminosos. Escudados por um corporativismo e com o preparo necessário para enfrentar à bala seus oponentes, esses indivíduos têm por característica não temer a lei, que conhecem de perto, principalmente, o lado complacente da Justiça com esses anti-heróis.

Na escola da polícia com o conhecimento adquirido em preparação e nas ruas, principalmente com o envolvimento com autoridades de todo o escalão do Estado, as fraquezas e as culpas fazem dos milicianos uma tropa mais difícil de combater do que as quadrilhas comuns de criminosos. Uma característica desses falsos heróis, e que logo salta aos olhos, é que por sua origem no próprio Estado, fazem com que eles se tornem até mais vis e mais criminosos do que os tradicionais bandidos.

Esse verdadeiro exército de malfeitores em proliferação, não só em regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, lembra, para alguns que o antigo Esquadrão da Morte, que atuava na fronteira entre o Estado ditatorial do fim dos anos 1960, gerou descendentes muito mais letais e prejudiciais às populações. Trata-se, na opinião de alguns especialistas, de um potencial grupo paramilitar que, se não for combatido na raiz, trará sérios problemas ao país, atolado na criminalidade. As suspeitas que personagens do alto escalão mantêm proximidades com esses grupos, fez acender a luz para o problema.

Pena que o Congresso, tão enredado em problemas pessoais de seus membros com a própria Justiça, não possa realizar um profundo inquérito de investigação sobre essa questão, a tempo de colocar toda a sociedade a par de um problema que cresce e que se espalha até dentro do próprio Estado.

Bancadas como a da Bala, em defesa disfarçada, fazem desse grupo um assunto da maior importância e que não vem sendo tratado com o cuidado que mereceria. A noção de que esses grupos agem apenas para deter quadrilhas de traficantes e outros bandidos tradicionais é, além de enganosa, uma espécie de antipropaganda que visa angariar apoio popular para suas ações.

Comunidades compostas por milhares de famílias que vivem há anos sob o jugo dessas milícias, sabem exatamente do que estamos tratando e sentem na pele o domínio ameaçador e violento dos milicianos. O medo impera nas comunidades. Quem ousa se opor ao controle deles é ameaçado, forçado a sair da própria casa ou, simplesmente, morto. As investigações, jamais chegam ao seu curso final. Infiltrados no Executivo e no Legislativo, tanto local quanto federal, esses grupos encontram a simpatia de muitos próceres do governo e mesmo do Judiciário. Não por outra razão, é possível afirmar que esse é mais um ovo da serpente que vem sendo lentamente chocado no seio da sociedade aos olhos de todos.

Muito mais do que um fenômeno puramente brasileiro, a existência das milícias é mais uma prova da leniência dos Três Poderes em enfrentar uma questão que, mais cedo ou mais tarde, poderá estar fincado em definitivo entre nós. Não se deixem iludir: a questão da violência no Brasil, uma das maiores do mundo, jamais irá recuar pela ação de milicianos ou assemelhados. Pelo contrário, trata-se de mais um fator de insegurança a agravar nosso problema.


A frase que foi pronunciada

“A invasão de um exército pode ser detida, mas não a invasão das ideias.”
Victor Hugo, romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista francês


Preferido


» Curiosamente, o Guinness Book bateu um recorde. É o livro mais roubado do mundo.


Brincadeira

» Outra curiosidade que poderia sacodir as feministas é a origem do nome Golf: Getlemens Only Ladies Forbbiden. (Apenas cavalheiros. Damas proibidas.) Seria um escândalo se fosse verdade. Mas não é.


Estocolmo

» Um verdadeiro absurdo o preço de material escolar. Em colégios particulares, livros custam uma fábula. Em escolas estrangeiras ou bilingues, alguns itens são cobrados em dólar. A venda casada também é adotada. Há a opção de os pais escolherem outro estabelecimento, mas se submetem a isso porque o ensino é bom. E é aí que mora o perigo.


História de Brasília
O deputado Hugo Borghi pediu, ontem, licença à Câmara dos deputados, para fazer uma viagem ao exterior, sem ônus para o governo. Pediu, entretanto, interferência do Legislativo, para facilitar a aquisição de 10 mil dólares. (Publicado em 14/12/1961).