Ler nas entrelinhas é, talvez, o exercício mais preciso e eficaz para entender o que se esconde por trás de cada declaração política e o que realmente pretendem com elas os profissionais dessa arte da prestidigitação das palavras. O que parece, à primeira vista, ser um coelho saído da cartola é, na verdade, um gato que tenta escapar às pressas assim que vislumbra a chance. Os antigos gregos tinham uma palavra precisa para definir essa capacidade falaciosa de hipnotizar as orelhas: demagogia.
Unida à retórica do tipo popular, a demagogia torna esse ator falastrão num verdadeiro lobo a conduzir ovelhas, capaz, como dizem os sulistas, de levar gato para nadar. É justamente essa capacidade que guindou ao mais alto cargo do Executivo um personagem como Lula.
Visto por trás da cortina de veludo espessa, trata-se de um personagem, ou como ele costuma repetir, uma ideia. A última proposição desse personagem, que integra o rol da fama de indivíduos inscritos no folclore político nacional, foi a solicitação para que os petistas criem núcleos evangélicos na maioria dos estados brasileiros, como forma de atrair parte do eleitorado que hoje torce por Jair Bolsonaro.
Nesse ponto, é preciso destacar aqui o que poderia ser o utilitarismo da fé, ou retira o que existe de prático no mundo do além. O fenômeno político atual que faz com que boa parte do Congresso Nacional seja dominada por bancadas de orientação religiosa, mormente pelos chamados neopentecostais, despertou no ex-presidiário e ex-presidente a ideia de que um possível retorno ao passado terá que ser necessariamente trilhado pelos caminhos da fé.
Não de uma fé em seu sentido espiritual, mas da fé no poder. Obviamente, essa não é uma ideia brotada originalmente em sua mente, mas possivelmente oriunda da cabeça de seu mentor e estrategista do caos, José Dirceu. Como justificativa de Lula para a conversão aos caminhos laicos dessa fé, o petista disse: “É preciso aprender com os pastores, eles falam bem e o que as pessoas querem ouvir”. Num país surrealista como o nosso, não seria extraordinário que Lula transformasse o partido que é seu, numa espécie de nova igreja, na qual ele seria , necessariamente, o pastor mor. Por certo, Lula e seus sequazes devem sentir uma tremenda inveja dos grandes pastores nacionais.
Milionários e cheios de seguidores, recebem a bênção do Estado, não pagam impostos, não justificam suas fortunas e até podem ser presenteados com isenção nas contas de luz e água, conforme deseja o atual governo. Neste país, que desde 1500 busca um rumo, a confusão agora entre religião e política, poder e fé, secularismo e espiritualismo, os horizontes que parecem se abrir à frente, em pleno século 21, são de uma mistura letal entre igreja e Estado.
Neste novíssimo país, os cidadãos serão transformados em crentes, os governantes em pastores, as leis constitucionais em dogmas celestiais, criando, assim, um Brasil onde todas as faltas serão perdoadas e a nação deverá render louvores aos seus dirigentes, pois eles passarão a governar por desejo divino. Haverá, assim, uma direita e uma esquerda religiosas. Talvez até um Supremo celestial, que julgará os casos de heresia e outros atentados à fé cega no Estado. Deus nos livre!
A frase que foi pronunciada
A frase que foi pronunciada
“Em política, o único verdadeiro, é o que não se vê.”
José Martí, poeta, ensaísta, jornalista, tradutor e professor cubano.
Novidade
» Senadora Leila Barros apresentou um projeto de lei que altera o Código Penal. A proposição define como crime a prática de perseguição ou assédio de forma insistente, provocando medo na vítima e perturbando a liberdade.
A pena, antes de dois meses, passará para três anos.
Ainda
» Mesmo com alternativa de estacionar em local pago,
os motoristas preferem parar ao longo do meio-fio.
A fila é grande e impede o uso das duas pistas.
Chuvas
» Em dias de chuva, a engenharia do DER e as administrações precisam sair dos gabinetes para acompanhar os estragos feitos pelas águas. Falta de escoamento, rede pluvial, zonas de contenção de água e, principalmente, falta planejamento de apoio do governo.
Vale conhecer
» Uma beleza a Casa do Cantador em Ceilândia. O prédio foi projetado por Oscar Niemeyer como homenagem aos nordestinos do DF. Conhecido como Palácio da Poesia,
o lugar fervilha com a cultura dos cantadores.
História de Brasília
O Serviço de Trânsito recebeu ordens para anotar os carros oficiais que transitam aos sábados e domingos, contrariando ordens do chefe da Casa Militar. Sessenta e dois carros foram anotados, muito embora as providências tomadas daí por diante sejam desconhecidas. (Publicado em 14/12/1961)
História de Brasília
O Serviço de Trânsito recebeu ordens para anotar os carros oficiais que transitam aos sábados e domingos, contrariando ordens do chefe da Casa Militar. Sessenta e dois carros foram anotados, muito embora as providências tomadas daí por diante sejam desconhecidas. (Publicado em 14/12/1961)