Paulo Roberto Falcão costuma dizer que “jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando para de jogar”. Estive em Fortaleza cobrindo o Seleções de Lendas 1994, evento realizado pela CBF para reativar a Seleção de Masters e homenagear os tetracampeões contra a Itália numa espécie de #tbt da final da Copa dos EUA. Chamou a minha atenção como um dos maiores zagueiros da história do futebol — o líbero Franco Baresi, de 59 anos, curte a vida de aposentado.
Hospedado em um hotel luxuoso na capital cearense, Baresi atuou com a mesma frieza dos tempos em que brilhou por Milan e Itália. Evitou entrevistas. Veio ao Brasil para cumprir seu papel: brincar com profissionalismo e descansar na confortável concentração.
Enquanto jogadores do Brasil transitavam pelo saguão como se estivessem vivos, ou seja, na ativa, respirando a interação com os fãs, Baresi mostrava que aprendeu a lidar com a “primeira morte”. Era raro vê-lo ali pelo hall.
O líbero participava pouco das resenhas do café da manhã com os velhos companheiros de guerra da Squadra Azzurra. Fazia o desjejum e rapidamente se recolhia. Perambulou pelo hotel muito menos do que o não menos badalado técnico Arrigo Sacchi. Quando aparecia, posava rapidamente para fotos com tietes com cara de quem cansou do assédio que o perseguiu ao longo da carreira marcada pela conquista de 18 títulos — incluindo três da Champions League (1989, 90 e 94).
Vários jogadores caminhavam pra lá e pra cá deslizando os dedos na tela do celular. Baresi evitava os vícios da vida pós-moderna. Numa tarde, perguntei a um amigo dele por onde andava o beque. “Dormindo”, revelou.
Seleto, Baresi gostava de conversar no hotel com o tetracampeão Aldair. Por sinal, ambos sempre jogaram mais do que falaram. Em comum, a humildade, a timidez. Empolgação não é com eles. Ricardo Rocha era o “arroz” do hall. Estava sempre contando histórias, atendendo os fãs e dedilhando o celular.
Na saideira do Brasil, Baresi novamente “sumiu”. Enquanto alguns jogadores aproveitavam a ‘folga depois da vitória por 1 x 0 sobre o Brasil para ir à praia, caminhar pela orla, fazer compras ou sentar-se no bar do hotel, flagrei Baresi relaxando na cobertura. Escolheu a piscina. Depois de nadar, sentou-se próximo à borda exposto ao sol de 30 graus em Fortaleza. Não suportou o calor por muito tempo e caminhou até a cadeira de sol que esperava o ídolo. Ele só queria sombra e água fresca.
Questionado se poderia falar um pouco sobre futebol, Baresi sorriu. Agiu como um gentleman e deu mais uma demonstração de que aprendeu a lidar com a primeira morte. “Estou de folga”. Não havia aparelho celular por perto. Não que Baresi seja avesso às redes sociais. No Brasil, fez apenas um post sobre o jogo no Twitter. Leva a vida bem do seu jeitinho, como dizia o pagode de Alexandre Pires que tocava na piscina. É o mais “mineiro” dos italianos. É de fazer, não é de falar. Ainda bate um bolão, mas prefere curtir a aposentadoria.
Depois do jogo, Baresi passou como relâmpago pela zona mista. Mais um recado de que a brincadeira, o presente, não precisa mais ser tão levado a sério. Há programas bem mais importantes do que resenha sobre futebol com jornalistas. Baresi participou da confraternização com os jogadores de Brasil e Itália no restaurante Coco Bambu, a poucos metros da concentração, e retornou rapidamente ao quarto para curtir o sono dos justos.