Opinião

Visto, lido e ouvido

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Arqueologia

Para um arqueólogo atento, que resolva, em um futuro distante, prospectar os indícios e outros vestígios materiais produzidos pelos habitantes da capital, capaz de indicar que tipo de civilização foi erguida aqui, nesses confins do Centro-Oeste brasileiro, sem dúvida alguma, com exceção da moderna e engenhosa arquitetura exibida pela cidade, e que forma uma espécie de casca a envolver a metrópole, uma grande interrogação surgirá logo na primeira prospecção, surpreendendo esse pesquisador. Como pôde uma civilização, assentada em meio à tão futurística arquitetura, não apresentar quaisquer traços de cultura material mais relevante?

De fato, ao pesquisar minunciosamente as ruas e as avenidas da mais importante cidade do país, em busca dos elementos indicativos que comprovariam a existência de um fervilhante movimento cultural espalhado pelos quatro cantos da metrópole, nosso arqueólogo chegaria a uma embaraçosa conclusão: pouco ou nada parece existir nesse lugar que possa confirmar ou negar a existência de uma população envolvida e produtora de cultura.

Uma radiografia das principais ruas da cidade mostraria, de forma taxativa, a inexistência de teatros, centros culturais, livrarias, galerias de artes, museus e outros centros dedicados às artes. Nosso turista das ciências iria se deparar, em grande profusão, e em cada esquina, com bares, botecos e outros estabelecimentos de fornecimento de álcool, lojas de quinquilharias diversas e um incontável número de farmácias.

Para um pesquisador, isso denotaria, numa primeira impressão, que, ao beber em demasia, essa população viveria constantemente doente e necessitada de remédios e outros unguentos para viver. Além dos bares e farmácia em quantidade sintomática, a pesquisa revelaria também a multiplicação das casas lotéricas, o que indicaria que a população vivia na esperança de ganhar mais dinheiro para alimentar o vício do álcool. Esses bares teriam se transformado em centros de cultura, onde o álcool seria a atração principal.

Por outro lado, o que saltaria aos olhos e dando a certeza de que essa civilização do Centro-Oeste desprezava a cultura e seus derivados, seria o abandono de museus e teatros, anteriormente mantidos pelo governo, por meio da cobrança de uma das mais altas cargas tributárias de todo o planeta. Todos agora fechados ou sucateados, transformados em depósitos de materiais diversos.

Quando uma cidade permite que seu principal centro de cultura, nomeado com o nome soberbo de Teatro Nacional, se transforme num almoxarifado de quinquilharias e outros objetos a serem descartados, como um imenso galpão para acondicionar o lixo mobiliário da burocracia, tudo está irremediavelmente perdido. Não há salvação para uma civilização fora da cultura. Sem esse traço arqueológico, presente em toda e qualquer civilização, em qualquer momento da história, toda a sociedade pode ser reduzida ao patamar evolutivo de um formigueiro, devotado apenas a sobreviver.


A frase que foi pronunciada

“O artista é aquele que desmente as leis anatômicas e fisiológicas, vivendo do princípio vital de uma única entranha: o coração.”
Camilo C. Branco, escritor português, dramaturgo, historiador,
poeta e tradutor


Registro

» O senador Izalci, eleito pelo DF, apontou várias distorções em relação ao soldo dos militares. Enquanto todos os civis que buscaram na Justiça o direito a reajuste de 28% e ganharam, o comando das Forças Armadas recomendou a seus integrantes que não entrassem na Justiça, e quem não entrou, perdeu. A busca agora é pela recomposição por meio da legislação.


Desrespeito

» Acredite se quiser. O salario-família de um militar é de R$ 0,16. A indenização do auxílio de transferência é tão baixa, que pagam do próprio bolso.


Absurdo

» Outro disparate é em relação aos médicos das Forças Armadas, que recebem 30% do que ganha um médico do DF.


Estranho

» No manejo de água de outros países não há a presença de organizações brasileiras como parceiras. Já no Programa Produtor de Água no Descoberto, coordenado pela Sudeco, há parcerias com o Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (Cirat), a The Nature Conservancy (TNC), a Word Wild Fund for Nature (WWF), a Aliança de Fundos de Água da América Latina e a Coalização Cidades pela Água.


Reforço


» Mais de R$ 300 milhões são investidos em escolas com vulnerabilidade social. Dados do Censo Escolar, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), indicaram os colégios para receber a verba. Pena que não haja aplicativos na internet para a população acompanhar a aplicação dos recursos.


Será?

» Presidente Bolsonaro sacode o gigante adormecido com a seguinte previsão. Manobras para um impeachment à vista. Razão: se ele vetar o valor de R$ 2 bilhões para o fundo eleitoral aprovado pelo Congresso para as eleições municipais deste ano.


História de Brasília
Vamos olhar mais para o “Gavião”. A iluminação começou e não terminou; a urbanização foi apenas planejada e o Posto Policial ficou na promessa. (Publicado em 13/12/1961)