Os impactos dessa negligência mundial são visíveis nos quatro cantos do planeta em incêndios de difícil contenção, longos períodos de seca, enchentes, nevascas severas, furacões e processos de desertificação — retrato negativo para os próximos anos, já que eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes. Enquanto isso, na maior conferência do mundo sobre a temática, quem ganhou voz é a ativista ambiental sueca Greta Thunberg, de 16 anos, ocupando o espaço deixado pelos líderes das principais potências do mundo, que poderiam tomar decisões e atuar em mudanças de forma efetiva, mas parece que ainda não entenderam a urgência do assunto.
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris representa um risco, principalmente pela influência sobre outras nações, como países árabes e a Polônia, que têm a economia fortemente baseada na exploração de combustíveis fósseis. A turbulência político-econômica que afeta países da América do Sul, como Chile e Brasil, impossibilitou a vinda da COP para o continente. A carência de compromissos com o clima dificulta a adoção de medidas arrojadas que migrem para tecnologias ecológicas mais eficientes. Se não concentrarmos esforços agora, aumentamos a dificuldade para o futuro.
A tendência é de que o mercado global compreenda a necessidade e busque iniciativas que usem energia limpa. Enquanto isso, no Brasil e em diversos países, continuamos a carbonizar nossa matriz energética, não investimos fortemente no segmento e contamos com uma agricultura fortemente convencional.
Precisamos de ações efetivas — públicas e privadas — para conservar o patrimônio natural que nos resta. O bom funcionamento dos ecossistemas será nossa maior proteção contra os eventos climáticos extremos, assegurando condições para o desenvolvimento socioeconômico e para o bem-estar da população. É preciso defender a implantação de soluções baseadas na natureza como alternativa para a adaptação das cidades diante da crise climática.
É evidente também que necessitamos de mais ambição para cumprir as metas do Acordo de Paris e impedir o caos climático. O ano de 2019 deve ficar entre os três mais quentes da história, enquanto a última década foi a mais quente já registrada. E a tendência é de que os ponteiros dos termômetros só aumentem. A ONU alerta para “perspectivas sombrias”. Mesmo que todos os países cumpram sua parte no Acordo de Paris, o planeta esquentaria cerca de dois graus Celsius. Até o momento, já esquentou um grau, e os eventos climáticos extremos estão causando sérios impactos. Na tendência atual, estamos rumando para um aumento de três a cinco graus, o que seria desastroso.
A janela de oportunidades para reverter esse cenário está fechando. Temos apenas um ano para finalizar as regras do Acordo de Paris e ampliá-lo, já que as metas que estão na mesa são insuficientes. Sem um consenso entre as nações, qualquer tomada de decisão parece longe de acontecer. É a sociedade global à deriva.
*Gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza