Aliás, diplomacia nunca foi o forte do atual governo. Em agosto passado, Bolsonaro insultou a esposa do presidente francês, Emmanuel Macron, ao responder a um comentário nas redes sociais sobre a aparência de Brigitte. Dias antes, tinha cancelado uma reunião com Jean-Yves Le Drian, chanceler da França, para cortar cabelo. Detalhe: a ;urgência capilar;, como foi classificado o incidente por Paris, acabou transmitida ao vivo pelo Facebook.
Até mesmo o ;namoro; com o norte-americano Donald Trump se revelou um fiasco. Bolsonaro disse que tinha livre acesso, por telefone, ao republicano. Posou quase como fã ao lado do ídolo na Casa Branca. Só não contava com o fato de que interesses econômicos se sobrepõem a amizades de aparência. Assim como o ;Brasil acima de tudo;, a América vem em primeiro lugar. O mesmo Bolsonaro, que trata Nicolás Maduro e Luiz Inácio Lula da Silva como facínoras, corteja o príncipe saudita Mohammed bin Salman (MBS), acusado de ordenar o assassinato e o esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi, crítico da monarquia. ;Todo mundo gostaria de passar a tarde com um príncipe;, brincou.
Mas o desastre maior veio no Conselho de Direitos Humanos e na Assembleia Geral da ONU, em Genebra e em Nova York. Atrelado ao discurso ideológico de demonização da esquerda e neopentecostal em relação aos costumes, o Brasil se omitiu em condenar as execuções extrajudiciais durante o governo do presidente filipino, Rodrigo Duterte, e votou a favor de Israel na polêmica expansão de assentamentos judaicos em terras palestinas. Também votou contra a resolução da ONU que condena o embargo econômico norte-americano a Cuba. E se alinhou a nações regidas por um rígido código do Islã. São apenas alguns exemplos de como a diplomacia do Itamaraty regrediu décadas em menos de um ano. O Barão do Rio Branco provavelmente não esconderia a vergonha, se vivo estivesse.