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A política brasileira continuará polarizada entre grupos extremistas conservadores ; radicais nas palavras e defensores de um modelo ; enquanto não houver uma proposta aglutinadora que indique novo rumo para o desenvolvimento social e econômico. O discurso político está polarizado entre dois extremos, mas nenhum deles oferece ideias avançadas para reorientar o futuro do Brasil.
Nenhum deles se compromete com um caminho estratégico para assegurar educação e saúde de qualidade para todos, independentemente de renda familiar. Não diz como enfrentar a desorganização das cidades nem como superar a tragédia da pobreza persistente, nem como dar sustentabilidade social, ecológica e fiscal. A esquerda e a direita são radicais e reacionárias.
Radicalizam na relação um com o outro, mas propõem o mesmo projeto de nação. O debate entre os dois extremos conservadores é sobre estatizar ou privatizar, não como fazer uma economia que seja eficiente com uma sociedade justa. Não propõem novo tipo de Brasil que teremos no futuro nem discutem como colocar o Estado a serviço do público, do povo, da nação.
Discutem formas de retomar o crescimento econômico sem reorientá-lo em direção à sustentabilidade ecológica, fiscal, social. Unem-se no debate sobre o valor das minúsculas transferências de renda para populações pobres, mas não defendem as reformas estruturais que permitirão superar o quadro de pobreza, para que não sejam mais necessários esses programas.
Divergem sobre o conteúdo nas escolas, mas nem esquerda nem direita defende que todo o sistema educacional de base seja concessão pública. Divergem sobre pequenas cotas para ingresso na universidade, mas não se comprometem com a universalização do ensino médio, com a mesma qualidade, independentemente da renda e do endereço da família.
A verdade é que, por falta de uma proposta transformadora que mude a realidade brasileira ao longo dos próximos anos, os extremistas ficam prisioneiros do conservadorismo, da mesmice, com palavras diferentes e minúsculos ajustes. Beneficiam-se eleitoralmente do vazio de alternativas radicais e do medo que cada um deles inspira ao eleitor.
O extremismo entre conservadores, seja Bolsonaro, seja Lula, dois discursos velhos de uma história socioeconômica que se esgotou, aprisiona o Brasil. Nenhum dos dois apresenta um projeto novo para o país. Não apresentam uma alternativa radical que inspire, atraia e convença a população. São iguais: dois lados de uma mesma moeda, sem oferecer um projeto alternativo.
Tudo indica que ficaremos ainda décadas sem alternativa que seja radical nas propostas e moderada nos meios. Por isso, vamos continuar assistindo aos discursos extremistas nas falas e conservadores nos propósitos. O segundo turno continuará entre extremistas conservadores, reacionários estridentes, divergentes, mas mutuamente aliados por serem necessários um ao outro. Porque sem inspirar esperança em si, inspiram medo no adversário.
A consequência é que no lugar de votar por esperança em seu candidato, o eleitor, mais uma vez, terá de escolher o seu candidato por medo e desencanto com o outro. Mais uma vez, votaremos no segundo turno com medo do outro lado, não com esperança no nosso lado.
Este não é um tempo de esperança em mensagens novas, mas de desencanto com as mensagens antigas. Um exemplo é a ameaça fantasmagórica da direita falando de comunismo. Outra é a ameaça vinda da esquerda apontando o fim de programas assistenciais. Nem um nem outro lado aponta para reformas sociais, especialmente na educação, que a sociedade brasileira precisa. Esquerda e direita assumem extremismos e fogem de reformas estruturais.
No meio do desencanto, os extremos não trazem o novo, mas mobilizam as forças políticas e as mantêm ativas. O centro vazio nada inspira e nada mobiliza, porque o centro também é conservador. Os extremos são antropófagos e comem um ao outro. O centro é antropofágico e come a si. Todos se alimentando da falta de propostas progressistas e de ousadia transformadora.