Jornal Correio Braziliense

Opinião

O tempo não para, mas volta

Voltei no tempo 42 anos. Sentei nas arquibancadas da quadra de esportes e na cadeira das turmas da 7ª série, entrei na capelinha que servia de refúgio e esconderijo, caminhei pelos corredores do colégio, revi fotos e placas de formatura. Fiz um flashback da minha vida inteirinha %u2014 meus 15 mil e poucos dias de vida girando, ora como um carrossel suave, ora como uma roda gigante, ora como uma montanha-russa de altos e baixos. O slogan %u201CColégio Maria Teresa do tamanho do seu sonho%u201D pareceu-me agora mais real do que nunca. %u201CO sonho é seu, construa a seu modo, não se perca nos sonhos alheios%u201D, dizia Esther Corrêa, professora de português. Ela sempre esteve certa. Distantes no tempo, mas guardadas na alma, as palavras importantes novamente ganham vida e passam a fazer carinho na mente. A visita à antiga escola é uma viagem ininterrupta ao passado. Sem escalas, revela que as lembranças estão ali, vivas e eternizadas. Os anos que passaram não apagam os bons momentos. Chegam os sons das mesmas gargalhadas. O medo que eu tinha %u2014 e escrevi sobre ele há três semanas %u2014 não se confirmou. Ninguém falou de política nem das sandices de um novo tempo que parece tão bestial e até rupestre. Olhei aquelas mulheres maduras ali, algumas delas, como eu, já avós e descobri que a passagem dos anos só nos fez bem. Cláudia Jane, uma das amigas mais divertidas que encontrei na vida, me fez sentir dor de tanto rir. Exatamente como fazia na escola. As professoras nem sequer notavam quem era autora das palhaçadas. A doce Madalena continua gentil, generosa e cativante. Jalusy, Ângela, Inadelma, Rute, Cecília, Elvira, Joana, Gorete, Rafaela... Tantos reencontros com o olhar matreiro de uma, a perspicácia de outra, a graça de todas. Rever as amigas de escola e o colégio de minha infância e adolescência foi festa para o meu coração. Tenho hoje consciência de que o passado jamais nos trai. Ele só volta como ensinamento e experiência. Por isso, de vez em quando, visitá-lo é trazer para o tempo presente uma alegria genuína. Diferente do futuro, que carrega nossas vãs expectativas e pouquíssimas certezas, o passado é capaz de deixar nossa existência cheia de significado. Reencontrei minha escola, minhas amigas, minha história, minhas risadas mais altas e, por que não, um pouco da inocência daqueles tempos. Recomendo boas viagens como essa. São um presente que você pode se dar de vez em quando. Reencontros com você mesma, com amigos, com lembranças e lugares são visitas quase angelicais do que você foi um dia. Pega sua caixa de afetos e começa a programar. Vale a pena.