Dívida histórica
Que o Brasil é reconhecidamente um país onde as desigualdades econômicas e sociais estão entre as maiores do planeta não é segredo para ninguém. No entanto, o que muita gente faz questão de não enxergar, até mesmo por um sentimento de culpa coletiva, é que esse fato esconde uma realidade ainda mais cruel e que está por detrás do enorme apartheid social motivado, em grande parte, pela questão do racismo ou mais simplesmente pela cor da pele.
Obviamente, esse é um problema visto em muitos países do globo. Ocorre que, no Brasil, essa questão, decorrente da própria formação histórica, possui raízes mais profundas que remontam ao passado. Até pouco tempo atrás, essa era uma discussão que parecia não incomodar a sociedade, justamente por se acreditar ser esse um tema já superado pelo poder da miscigenação massiva da população.
Essa dissimulação, um tanto quanto fantasiosa, servia apenas para esconder uma realidade presente em todos os aspectos da vida brasileira: nos romances, na poesia, no samba, nas novelas. O racismo em nosso país é um problema que vem nos acompanhando desde o período colonial, principalmente com a introdução da escravatura através do chamado comércio negreiro entre meados do século 16 e o fim do século 19, época em que a decretação da Lei Áurea, em 1888, pôs fim a esse sistema desumano de mão de obra.
De fato, como reconhecem os historiadores, os escravos eram os pés e as mãos dos senhores de engenho, o que significa que, sem essa força de trabalho, seria impossível todo e qualquer desenvolvimento não apenas no período do Brasil colonial, mas posteriormente. Passados todos esses séculos, a escravidão ainda é um passivo histórico em aberto, que precisa ser quitado de forma justa e permanente.
Estudo elaborado pelo Google, em parceria com o DataFolha e a Mindset-WGSN, intitulado ;Consciência entre urgências: pautas e potências da população negra no Brasil;, mostrou que o racismo institucional e estrutural é o segundo tema mais urgente para 44% dos 1.225 entrevistados de todas as classes sociais. ;Sete em cada 10 negros não se sentem representados pelo governo brasileiros, sendo que 68% não se sentem também representados pela publicidade em geral;, avaliam os entrevistadores, ao concluir que, quanto menor a escolaridade, a idade e a renda, maior se mostra a urgência em debater temas como genocídio e feminismo negro.
Outro elemento levantado pela pesquisa mostrou que o ativismo e o engajamento das novas gerações sobre esse e outros assuntos ligados à população negra têm sido grandemente impulsionado pelas redes sociais da internet. No Distrito Federal, onde 57% da população se declara negra, o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED) comandado pela promotora de Justiça Mariana Nunes tem empreendido enormes esforços no combate ao racismo e à injúria. Também vem promovendo projetos que viabilizam a reflexão e consciência por parte dos autores de crimes raciais, seja por meio do pagamento de pesadas indenizações por reparação de danos morais em favor das vítimas, seja obrigando os autores desses crimes ao comparecimento pessoal em juízo, periodicamente, para informar e justificar suas atividades. Há, ainda, a proibição dos autores de se ausentarem, sem autorização, da comarca onde residem e a obrigatoriedade de participação em curso ou palestra sobre igualdade racial, além de outras medidas restritivas.
Nesse dia 20, em que se comemora o Dia da Consciência Negra, esse ainda é um tema a ser discutido em busca de soluções que diminuam o hiato social/racial, de forma que o Brasil encontre um caminho que leve ao desenvolvimento verdadeiro, aquele construído pela inclusão e igualdade de oportunidades.
A frase que foi pronunciada
;Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados!”
Makota Valdina, educadora, líder comunitária e ativista brasileira.
Exagero
; Ninguém compreendeu a exigência da comitiva chinesa. Bloquear o Royal Tulip, retirar todas as câmeras e pedir para eliminarem todo quebra-molas da redondeza foi um pouco demais.
Um parque
; Está avisado. O governo federal anunciou que, até dezembro, venderá o terreno da Octogonal 3. Trata-se de um espaço cuidado pelos moradores, que têm plantado árvores ao longo de uma década com a esperança de que seja transformado em parque da região.
Ponto final
; Corre à boca miúda que já existe um projeto de 10 blocos com mais de 12 andares cada um para a Octogonal 3. Imaginem o fluxo de carro naquela região para abrigar um condomínio desse porte. O protesto é organizado. Os moradores, gente antiga e poderosa da cidade, não vai deixar isso acontecer.
História de Brasília
O presidente do Uruguai vai receber duas homenagens oficiais: uma, do presidente da República, em Brasília, naturalmente. Outra, do primeiro-ministro, no Rio, naturalmente. (Publicado em 06/12/1961)