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Segundo o estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, divulgado no último dia 13, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os negros formam 56% da população brasileira. Isso é verdade. Embora essa seja a realidade numérica, na prática, nós ainda somos invisíveis em muitos aspectos, somos minoria política nas casas legislativas, pouco representados em todas as esferas de poder, bem como, nas universidades, no mercado de trabalho, etc. Que país é esse em que, fora dos espaços de encarceramento, onde temos presença significativa (diria até maioria absoluta), massa condenada a morrer atrás das grades, dificilmente podemos ter futuro menos cruel ou desfavorável?
A organização da população negra deve ser reforçada em tempos de opressão e pouca justiça. Vivemos num país onde o racismo mata jovens negros a cada 23 minutos e, de acordo com o IBGE, negros têm 2,7 mais chances de serem vítimas de assassinato do que brancos. Vivemos aqui a dor do racismo estrutural que percorre toda a sociedade, que ataca de forma mansa e silenciosa para que a maioria branca não se incomode com a própria consciência.
Comentários pejorativos, ofensas, xingamentos, agressões, discriminação no atendimento em lojas, perseguições por seguranças de shoppings, ataques em supermercados, desumanização, execução. O racismo manifesta-se de forma cruel e sorrateira. É inacreditável, imperdoável e inadmissível que a população negra sofra com o genocídio institucional promovido pelas polícias, chancelado pelos decretos armamentistas do governo de Jair Bolsonaro e pelas alterações legislativas do pacote apresentado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.
O movimento constante, persistente de negros e negras no Brasil em prol de dignidade e cidadania nos permite vislumbrar um futuro em que racistas sejam punidos com rigor. O genocídio da população negra no país vem sendo denunciado em instâncias nacionais e internacionais, e não deixaremos de lutar contra esse crime, pela nossa sobrevivência, pela vida. Neste mês de novembro, ocasião na qual os temas relacionados à população negra ganham maior repercussão, é necessário mais que expor perspectivas pontuais. Falar sobre a ;consciência negra; é apresentar o fruto da memória coletiva de luta da população negra que resiste, passados mais de 400 anos de exploração, perseguição e opressão no Brasil.
Estamos diante de um contexto político complicado, que apresenta novos desafios para o movimento negro. Mas é importante ressaltar, mais do que nunca, a memória de resistência que se apresenta como instrumento para a organização política da população negra.
Nos últimos vinte e cinco anos, obtivemos avanços significativos no combate ao racismo do ponto de vista legal, constituindo uma nova e vigorosa área de atuação e produção de conhecimento, como o crescente engajamento de operadores do direito militantes, novos aportes de estudiosos da causa racial e fortalecimento das instituições em defesa dos direitos humanos.
Avançamos na organização política das comunidades quilombolas, constituindo rede de dimensões nacionais. Cresceu a consciência da exclusão da imagem do negro na mídia e na esfera pública em geral, gerando reações na sociedade. Assim como o fortalecimento da organização da luta conta as desigualdades raciais pelas mãos das mulheres negras, introduzindo novos temas na agenda do movimento negro e enegrecendo as bandeiras de luta do movimento feminista, mobilizando a sociedade contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Como diria Sueli Carneiro, passamos de objeto de estudo a sujeitos do conhecimento.
Esse conjunto de forças e envolvimento político nos permite olhar para todos os lados e continuarmos a marcha, certos das vitórias. Vivemos momentos de paradoxos e perplexidades. Do nosso esforço, conseguimos arrancar o compromisso de muitos para introduzir a nossa pauta numa agenda nacional. Transformando nossos temas em força política relevante. É fundamental sairmos, ainda que tardiamente, das referências apenas nos momentos eleitorais ou de citação esporádica em casos de violência. Continuaremos lutando para que esse tema, ausente no parlamento, possa se transformar em objeto de políticas públicas, para que, de fato, viabilize as nossas reivindicações.
Vemos a necessidade de darmos continuidade à luta de nossos ancestrais, persistindo na defesa de uma cidadania plena, das ações afirmativas, da luta antirracista e de políticas de Estado que incluam a população negra historicamente excluída. Hoje, em nosso país, podemos contar com um número significativo de pessoas que lutam na causa antirracista, fato significativo para celebrarmos nesta data, sabendo que somos muitos e muitas a levantar a voz contra o racismo.
Somos um movimento de luta, denúncia e transformação, mas não aceitamos que nosso projeto político seja definido por forças externas e até contrárias a nós, que atuam no mercado, em governos, nas empresas e na mídia. A construção de estratégias coletivas de luta prossegue e celebramos a rapidez das reações do nosso povo. São passos corajosos e decisivos na direção certa contra o racismo.
Reaja à Violência Racial!
20 de Novembro ; Dia Nacional da Consciência Negra