[FOTO1]Dos plantões na porta da casa da Dinda, no Lago Norte, para acompanhar a frenética agenda do primeiro presidente eleito pelo voto direto pós-ditadura militar até a entrevista da última quinta-feira, em um gabinete do 13; andar do Senado, 30 anos se passaram. De lá pra cá, Denise Rothenburg e eu, jovens repórteres à época da primeira eleição democrática depois dos anos de chumbo, vimos seis outras faixas presidenciais serem ;usadas;, seis retratos oficiais serem pendurados nas salas do Planalto, alguns escândalos, impeachment, pacotes econômicos, mas nenhum outro momento da nossa trajetória cobrindo a política em Brasília guarda tanta semelhança quanto a de agora.
O ;caçador de marajás;, como tornou-se conhecido Fernando Collor na campanha da qual saiu vitorioso, e o ;mito; Jair Bolsonaro têm mais coisas em comum do que terem sido eleitos por partidos desconhecidos e nanicos. Essa afirmação comparativa poderia nem ser levada a sério se não fosse feita pelo próprio Collor de Melo, nesta entrevista concedida ao Correio.
Durante duas horas, eu, Denise, Bernardo Bittar e Augusto Fernandes ouvimos de Fernando Collor que o atual momento parece um filme já visto, em que ele próprio foi protagonista. ;Quando eu me elegi, eu disse: ;Bom, sou um um super-homem. (;) Essa questão da eleição em que se ganha com uma disputa muito acirrada... A primeira sensação é: ;Não, eu posso tudo. Agora, eu sou o maioral e, agora, todos os outros têm que se submeter à minha vontade, ao meu desejo;. Isso é um erro, e está acontecendo agora;, diz.
Collor permanece com a mesma altivez de antes, embora hoje carregue a serenidade de quem reconhece os erros. Parece mais humilde e tolerante. Confessa ter se arrependido de levar Mirian, mãe de Lurian, filha de Lula, à campanha eleitoral, em que Lula foi acusado de ter sugerido um aborto. Acha também que o petista foi preso injustamente.
Collor diz que não construir uma base sólida no Congresso é um erro que este governo também comete. E alerta sobre o perigo das redes sociais, em que Bolsonaro restringe sua comunicação ao eleitorado ;puro;, que não representa mais que 15% ou 20% da população, em sua avaliação.
Sobre sua própria trajetória, o senador tem a expectativa de que a história lhe julgue como um ;homem à frente do seu tempo;, referindo-se à abertura da economia e do mercado aos importados no início dos anos 90. Das ;carroças;, como ele se referia aos carros brasileiros, ao país de hoje; da ditadura aos trancos da nossa democracia, muita coisa mudou. Mas a política também é feita de déjà vu ; será que Collor tem razão?