[FOTO1]Ao mesmo tempo que a região se encontra com muitas dúvidas e tensões sociais, a República Argentina passará hoje por sua eleição presidencial, que deve ser uma das mais pré-anunciadas dos últimos tempos ; ainda que há apenas 60 dias o cenário fosse totalmente diferente.
O presidente Mauricio Macri recebeu como poucos o apoio de seu par brasileiro, Jair Bolsonaro, para a reeleição. Mas está claro que, o que a princípio parecia possível, após as prévias realizadas em agosto, tornou-se um desejo quase improvável. Alberto Fernández, líder da Frente de Todos (que conta como companheira de chapa a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner), tirou mais de 15 pontos de diferença de Macri.Com isso, quase se confirmou como tendência que, de acordo com os analistas, é pouco provável que seja revertida.
Enquanto a coalizão macrista ; Juntos por El Cambio ; defende a campanha #SiSePuede com a ideia de reforçar um segundo turno e estender o processo por mais três semanas, a oposição se baseia nos resultados obtidos. Isso foi refletido no último debate presidencial (o segundo em uma semana), que ocorreu domingo passado, quando Macri adotou a mesma estratégia discursiva que o levou ao poder em 2015. Já Fernández encontrava-se mais com um discurso publicitário, seguindo o que dizem os manuais de comunicação políticos: quem está ganhando não deve arriscar muito.
Os cenários que surgem adiante incluem quem vai liderar a região em um momento em que várias lideranças são colocadas em xeque. Se Fernández ganhar, talvez seja oportunidade interessante para o Brasil consolidar sua posição contra um mundo mais liberal, encabeçada pelos Estados Unidos. A volta do populismo ao subcontinente ainda está por vir. E essa parece ser uma bandeira que o macrismo pretende defender: ganhe ou perca.
Tanto Fernández como Macri compartilham fórmulas presidenciais com líderes que têm mais a ver com o passado do que com o futuro, e essa parece ser a lição deixada por essa eleição: 2019 será, sem dúvida, o último pleito de uma geração política que a história saberá julgar por sua contribuição ao crescimento e desenvolvimento de um país que sempre parece ser mais, mas que não consegue se livrar dos problemas que se arrastam há anos.
Por outro lado, quando poucas pessoas pensavam que o peronismo seria capaz de se unir novamente após as derrotas de 2015 e 2017, o que parecia difícil ocorreu. E logo poderemos analisar quanto tempo vai durar a sintonia. A Argentina tem sérios problemas econômicos, uma inflação galopante, uma pobreza que já alcançou ao menos 35% da população e uma classe de liderança que parece ser incapaz de chegar a acordos básicos para deixar de pensar no hoje e começar a pensar no amanhã.
O futuro da relação bilateral com o Brasil mediante a ascensão de Alberto Fernández como presidente é uma incógnita. De fato, enquanto o presidente Jair Bolsonaro se mostrou muito alinhado com Mauricio Macri durante a campanha pela reeleição, o candidato da Frente de Todos visitou Lula na prisão e colocou em dúvida a vontade de seu governo de seguir adiante com o Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e a União Europeia, uma mudança que trará obstáculos à estratégia de Paulo Guedes, ministro da Economia brasileiro, que chegou a ameaçar que O Brasil deixe o Mercosul caso Fernández ganhe.
No entanto, e apesar das diferenças, o Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina. Portanto, ante uma economia nacional em crise, é possível acreditar que Fernández buscará manter a relação com Brasília apesar das diferenças ideológicas. Durante a campanha, vale tudo, mas a região está órfã de lideranças fortes, como já teve no passado. Esse também é um troféu que muitos querem alcançar.
*Diretor-geral da LLYNC na Argentina