Jornal Correio Braziliense

Opinião

Artigo: plataformas digitais e os modelos de negócios

"Todas as empresas unicórnios brasileiras estão baseadas em plataformas digitais, quebrando antigas formas de consumo"

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A internet e as novas tecnologias vêm impactando a sociedade em diversas áreas e situações do cotidiano. Por causa delas, nossos hábitos sofreram grandes mudanças e, hoje, não conseguimos nos imaginar sem essas facilidades. Mais recentemente, elas vêm impactando a sociedade por meio das plataformas digitais, ferramentas que vieram para ficar e estão cada vez mais alterando não só as formas de consumo, mas também o próprio relacionamento com a tecnologia, por meio do uso de dados.

Para o economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter, a economia é um processo dinâmico que está sempre sofrendo alterações devido a inovações capazes de alterar as condições de equilíbrio existentes até então ; o economista aponta como exemplo disso a introdução de um novo bem no mercado, como um novo método de produção ou comercialização de produtos. E é exatamente isso o que as plataformas digitais trazem ; uma nova forma de comercializar um produto ou serviço por meio de uma tela (pode ser de celular, computador, televisão, entre outras), com pouca ou nenhuma interação humana e que desequilibra o modelo de negócios existente até então.

Pensando em modelos de negócios, todas as empresas unicórnios brasileiras (aquelas que são nascentes e que chegam a 1 bilhão dólares em poucos anos de vida) estão baseadas em plataformas digitais, quebrando antigas formas de consumo, trazendo novas maneiras de interação com o consumidor e também nova legislação.

Essa inovação trouxe rupturas em mercados totalmente tradicionais, nos quais ninguém esperava por mudanças. No caso das plataformas de motoristas, foi quebrado o modelo tradicional dos taxistas e a regulação veio logo atrás da inovação. Um exemplo é o Uber ; após introduzir sua plataforma digital no mercado, o agora unicórnio gerou uma onda de protestos exigindo ajustes na regulamentação em diversas cidades ao redor do mundo. Houve primeiro todo um processo de mudança da forma tradicional de consumo pelos serviços prestados para que depois viessem os ajustes na regulamentação. O mesmo está acontecendo com as plataformas dos patinetes e bicicletas compartilhadas.

Se pensarmos em imobiliárias, a plataforma do Quinto Andar também veio para alterar um modelo de negócio que estava sólido, facilitando o processo de compra e aluguel de imóveis. Pensando em serviços financeiros, os bancos estão cada vez mais se tornando ou nascendo digitais, como as fintechs, permitindo que seus clientes façam todas as operações necessárias por intermédiode suas plataformas. Um último exemplo é o Rappi, que aproveitou a proposta de plataformas de alimentação (como iFood e Uber Eats) e aplicou em outros tipos de estabelecimentos, possibilitando que o consumidor faça suas compras no mercado sem sair de casa.

As facilidades que as plataformas estão propiciando para a sociedade como um todo e os empregos que estão criandotanto nas suas empresas como para quem está a seu serviço, geram um desenvolvimento econômico e alteram o estilo de vida nas cidades. Hoje, as empresas tradicionais e referências em seus mercados estão buscando a inovação para repensarem os seus modelos de negócios. Temos inúmeros exemplos de como o mercado está se comportando, a fim de se reinventar e se manter competitivo. Um deles é o BNDES, banco tradicional de desenvolvimento econômico que criou o BNDES Garagem, iniciativa de apoio às startups brasileiras em fase de criação é aceleração, e o BNDES Direto 10 passando a oferecer financiamentos entre RS 1 e 10 milhões para investimentos de micro, pequenas e médias empresas inovadoras. Também no setor financeiro, o Itaú e o Bradesco criaram espaços de inovação,com o intuito de se aproximarem deste novo cenário. Na área hospitalar, o Hospital Israelita Albert Einstein está com vários programas para atrair startups e novos modelos de negócios.

Nos dias atuais, as empresas precisam se adaptar ao ritmo de mudanças constantes nas formas de fazer negócios e de engajar no mercado. Porém, além de simplesmente se adequarem às novidades para não perderem relevância, elas precisam encontrar formas inovadoras de melhorar a experiência do consumidor em relação ao seu produto ou serviço. Quem inova cria um novo mercado e se torna mais competitivo ; e, para o empreendedor inovador, há fontes de fomento (o Guia de Fomento à Inovação, produzido pela Abes em parceria com a ABGI, lista várias delas) independentemente da área de atuação.

*Diretora de Inovação e Fomento da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) e pós-doutoranda no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) no programa Cidades Globais.