A boa notícia do Social Progress Index 2019 ; uma mensuração detalhada sobre a verdadeira qualidade de vida das pessoas a partir unicamente de indicadores sociais e ambientais ; é que o mundo como um todo está melhorando. Desde 2014, quando o Índice foi lançado, temos visto evolução. Há mais pessoas nas universidades e houve grandes avanços no acesso à informação a partir da maior penetração de telefones celulares. Temos visto melhorias constantes na redução da fome, ganhos na prevenção de doenças e na universalização do acesso à água e saneamento básico. No entanto, o mundo não progrediu em aspectos relacionados à segurança, à educação, e questões associadas à inclusão estão estagnadas. Mais alarmante ainda: o mundo está retrocedendo no que tange adireitos individuais.
Isso significa que, globalmente, não estamos progredindo rápido o bastante para atingir os objetivos. No ritmo atual, estamos, na melhor hipótese, 43 anos atrasados para atingir as metas para 2030. Se as mudanças climáticas não forem devidamente abordadas, o atraso será ainda maior ou, talvez, nem atingiremos as metas. Alguns países, como Nepal e Etiópia, estão conquistando avanços rápidos. Porém, na maioria dos países emergentes, como China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria e as Filipinas, o progresso está lento demais. Da mesma maneira, boa parte do mundo abastado está progredindo vagarosamente. É vergonhoso como os países que estariam mais próximos de atingir as metas da Agenda 2030 e os que mais têm recursos para isso estejam indo tão mal.
Os outliers, ou pontos fora da curva, mais significativos, que representam os maiores empecilhos ao desenvolvimento sustentável, são aqueles países que estão regredindo. Apenas quatro estão nesse grupo desvantajoso: Nicarágua e Sudão do Sul, que enfrentam crises políticas profundas e não surpreendem tanto, conjuntamente a Estados Unidos e Brasil. A queda nos rankings de progresso social dos Estados Unidos é nítida desde 2014. Os EUA se posicionam, atualmente, como apenas 26 no mundo, atrás da República Tcheca e Estônia.
O Brasil ocupa a posição 49; no ranking mundial do Social Progress Index ; um pouco atrás da Romênia (45;) e um pouco à frente do México (55;) e de outros países do Brics (Rússia ocupa a posição 62;, África do Sul, 73;, e Índia, 102;). No entanto, o que preocupa no Brasil é sua mudança de direção. O Brasil caiu cinco posições desde 2014, enquanto o México, por exemplo, subiu seis e quase cessa a diferença entre os dois.
Por que, então, será que o Brasil presencia uma queda (-0,72) em sua nota no Social Progress Index desde 2014? Os principais fatores são o declínio em direitos individuais, desde liberdade de expressão até direitos de propriedade para mulheres, e Inclusão, que considera discriminação contra minorias e baixa equidade de gênero. O Brasil também está estagnado, ou presenciando quedas menores, em questões como segurança, acesso à eletricidade, qualidade na educação e saúde. Os poucos pontos favoráveis estão no avanço ao acesso à água e saneamento, penetração dos telefones celulares e o aumento no ingresso em universidades.
A retração evidenciada no Brasil, em relação ao avanço social, é ainda mais entristecedora, pois foi um dos países que melhor usava seus recursos para servir à população. Mesmo hoje, a 49; posição no ranking de progresso social do país, excede sua colocação no ranking do PIB, no qual ocupa o 65; lugar. Nas décadas recentes, o Brasil fez um progresso significativo na redução da pobreza e do combate à exclusão. O Brasil poderia, e deveria, ser o líder no cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável ; o mundo hoje precisava desse tipo de liderança.
*CEO do Social Progress Imperative e colaborador do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis)
*CEO do Social Progress Imperative e colaborador do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis)