Por questão de segurança, utilizo as calçadas. Mas, acreditem, os passeios públicos estão longe de dar segurança aos moradores das nossas cidades. Dia desses, preocupada em esvaziar a água acumulada numa embalagem jogada próxima a uma lixeira e evitar o nascimento de mosquitos da dengue, levei um tombo. Nada grave, alguns arranhões no joelho e no cotovelo. Depois de levantar, prossegui no meu trajeto analisando a causa do pequeno acidente.
Bastou um olhar mais apurado para verificar que todas as calçadas estavam esburacadas e desniveladas. A rodovia que segue ao lado, no entanto, impecável. Mais parecia um tapete negro muito bem sinalizado. Os moradores estão cansados de saber e de conviver com essa realidade que, além de desrespeitosa com os seres humanos, é quase uma zombaria com cidadãos que pagam altos impostos, que deveriam ser revertidos ao bem comum. Não me arrisco a correr pelo asfalto. Talvez fosse mais seguro, mas certamente não é o local adequado.
O que dizer às pessoas menos ágeis, às mais idosas, às com dificuldade de locomoção ou cadeirantes, mães com carrinhos de bebês? Lembro que, quando cheguei a Brasília nos idos dos anos 1990, achei graça na definição que me fizeram sobre a cidade: o brasiliense é um ser de cabeça, tronco e rodas. Já se dizia isso desde os anos 1970. Não há piada nisso. Não mesmo. Há poucos dias, o governador Ibaneis Rocha lançou um programa para a utilização de carros elétricos, o que é elogiável, embora voltemos à questão das rodas.
Até quando nossos administradores regionais, secretários de obras e presidentes da Novacap, DER ou órgãos responsáveis vão continuar a priorizar os veículos com estradas seguras e bem conservadas e deixar os pedestres na tarefa diária de vencer obstáculos em seus deslocamentos? Se queremos cidades cada vez mais verdes, se estamos nos preparando para criar ambientes cada vez mais sustentáveis, se pretendemos evitar a emissão de gases, vamos incentivar e estimular as pessoas a caminhar de uma quadra a outra, a fazer caminhadas, corridas ou passeios. A utilizar as pernas no lugar de rodas.
Talvez calçadas sejam obras caras, não sei. Os senhores distritais poderiam criar projeto propondo compensações aos moradores que construíssem calçadas à frente das suas casas, como a redução no valor do IPTU. As administrações poderiam estabelecer modelo-padrão para o calçamento, lembrando as rampas de acesso e outros cuidados. Creio que há profissionais especializados e conscientes, nas administrações regionais, que poderiam dar várias soluções para que o brasiliense voltasse a ser um ser mais humano, com cabeça, tronco, braços e pernas, que certamente vão levar a um futuro melhor.