Em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, Salles disse que ainda é preciso questionar quão grande é a contribuição humana para mudança do clima. O ministro pode até discordar dos 95% de certeza do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) com relação à ação humana ter causada mais da metade do aumento de temperatura na terra entre 1951 e 2010. De novo, a essas alturas, ação é mais importante do que opinião. A mudança aconteceu. Não temos tempo para discutir se a Terra é plana ou se mudança climática é conspiração marxista. É preciso agir para preservar a vida no planeta e continuar discordando.
No Brasil, incêndios florestais geram bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. Qual é a nossa estratégia para controlar as queimadas e reduzir as emissões, inclusive a partir da queima de combustíveis fósseis ? A pecuária brasileira é alvo de críticas e preocupações por ser uma das mais importantes emissoras desses gases, com cerca de 17% do total das emissões nacionais. Como vamos reduzir?
Por que não estamos propondo leis que obriguem o consumo e a produção sustentáveis, que lidam com o ciclo de vida das atividades econômicas? Sabemos que as desigualdades sociais podem comprometer a sustentabilidade das economias e que tecnologias são disruptivas. Temos 13 milhões de desempregados. Por que não estamos nos dedicando a criar postos de trabalho de baixo carbono que absorvam mão de obra de baixa qualificação? De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, até 2030, a economia verde poderia criar até 24 milhões de postos de trabalho apenas para o desenvolvimento da economia circular, em atividades relacionadas à reciclagem, reparos, aluguel e remanufatura, que substituirão o modelo econômico tradicional de extração, fabricação, uso e disposição.
O que estamos fazendo para planejar alternativas ao impacto do aumento da temperatura dos oceanos na vida das pessoas, uma vez que há previsões de que o aumento do nível do mar vai gerar um movimento migratório sem precedentes. Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e Belém são exemplos de cidades que enfrentarão ameaças críticas. Como disse Greta Thunberg, ;por que ainda não elevamos essas discussões ao topo das prioridades?;