Essa história contada nos dias atuais, marcados por redes sociais e informações em tempo real, pode parecer ainda mais bizarra. Porém, quando se trata de campanhas eleitorais, podemos afirmar que muitas das premissas atravessam décadas e continuam valendo até hoje. Afinal, o que é uma boa estratégia eleitoral? Como identificar as mensagens e propostas mais alinhadas à parte significativa do eleitorado? Em 2020 teremos eleições para prefeituras e câmaras municipais nos 5.570 municípios brasileiros, então, resolvi abordar algumas questões que podem ajudar a entender os processos eleitorais.
A primeira questão é reconhecer que o eleitorado é formado por pessoas comuns. Elas sofrem, se divertem, fazem amizades, trabalham, estudam, são desempregadas, enfim, vivem. E apesar das diferenças entre elas, todas têm algo em comum: a emoção. Ou seja, quem pretende conquistar sua vitória em campanhas precisa encontrar maneiras de tocar o emocional do eleitorado. Em outras palavras, para conquistar o apoio e o voto, é imprescindível que as pessoas olhem para o candidato ou candidata e falem pra si mesmas: ;Estamos juntos!”.
A segunda questão é saber como provocar esse tipo de reação. Para isso, é fundamental captar o que está no imaginário da população, algo muitas vezes intangível, mas absolutamente possível de ser feito de diversas maneiras, desde as mais simples, como o acompanhamento do que rola nas redes sociais, até as mais elaboradas, como a realização de pesquisas de campo estruturadas. O que importa é trabalhar com os recursos disponíveis para alcançar essa percepção.
A terceira questão é a identificação de bandeiras, propostas e mensagens que traduzam o sentimento captado. Nesse momento, é muito comum vermos candidatos e candidatas preocupados em detalhar exageradamente suas propostas. Sem desprezar a importância do conhecimento e aprofundamento em torno de temas relevantes, numa campanha sai na frente quem consegue se comunicar com o eleitorado de forma simples e direta, propiciando o cumprimento do primeiro quesito aqui levantado: tocar a emoção das pessoas.
A quarta questão é fazer o mapeamento das áreas territoriais prioritárias em alinhamento com as bandeiras definidas e os segmentos do eleitorado identificados. Ao fazer esse exercício, pode-se descobrir que em determinadas regiões a possibilidade de sucesso eleitoral é maior que em outras; ou ainda, que as mensagens escolhidas encontrem mais apelo junto a determinados grupos e setores sociais.
Atendidas as premissas acima, passa-se à fase da organização da campanha para Prefeitura ou Câmara Municipal. Nesse momento, é muito comum vermos que a primeira preocupação de candidatos e candidatas é com o custo financeiro da empreitada. Claro que não é possível fazer campanha sem dinheiro, mas a estimativa do valor necessário está, obrigatoriamente, relacionada à estratégia definida.
Assim, a primeira tarefa a ser realizada nesta fase é definir a estrutura necessária para colocar de pé a campanha, selecionando as principais atividades a serem executadas para, em seguida, começar o processo de seleção de quem vai se responsabilizar pela execução de cada uma delas. Nesse momento, é recomendável a montagem de um time que combine a participação de profissionais com a de apoiadores que atuem de forma voluntária.
Cumpridas essas etapas, a campanha já está pronta para se iniciar. Entretanto, nada disso dará certo sem que o principal tempero seja adicionado a essa mistura: trabalho, muito trabalho. A conquista de cada voto é um desafio que depende de três fatores: dedicação para colocar em prática a estratégia definida; capacidade de convencimento para encantar seu potencial eleitorado; e demonstrar, desde a campanha, que tem compromisso com as propostas e bandeiras que defende. Por isso, o vereador citado no início do artigo fazia daquele jeito: ele acreditava em sua estratégia e a colocava em prática.
* Consultor em estratégia