A cantora e compositora Marília Mendonça é autora dos principais hits que falam, em sua maioria, de traição e amores mal resolvidos. Ela é um exemplo de que nem todo mundo está aí fazendo ;merda; no mainstream, e que é muito difícil fazer generalizações. Em 2018, teve uma música no CD de Gal Costa, Cuidando de longe. Além de compor, Marília dividiu os vocais com a diva.
A sertaneja não é a única que se aproximou dos medalhões da MPB. O funkeiro Rafael Mike (Dream Team do Passinho) foi convidado por Chico Buarque para gravar a faixa As caravanas (2017) e, este ano, escreveu e gravou com Elza Soares Não tá mais de graça. Mais um exemplo de que o mainstream, nesse caso, o funk, pode ser, sim, de qualidade.
O outro problema da fala de Milton é que ela excluiu um fenômeno atual da música: o midstream. A nomenclatura tem sido usada para falar de artistas que fazem o maior sucesso nas plataformas digitais e têm lotado festivais pelo Brasil, como Coala (SP), Bananada (GO) e CoMA (DF). A diferença para o mainstream é que eles escolhem essa independência.
Nessa cena, temos nomes talentosos, como o compositor Tim Bernardes, da banda O Terno, que gravou recentemente com Gal Costa (Realmente lindo) e Lulu Santos (Lava); a baiana Xênia França, um dos destaques do Rock in Rio ao roubar a cena no show de Seal, na sexta última, no Palco Sunset, artista que bebe da fonte das religiões de matrizes africanas; a pernambucana Duda Beat, um fenômeno que mostra, em cada música, como a sofrência e o brega têm sua aproximação na MPB; e o rapper Baco Exu do Blues, artista que superou Beyoncé, no Grand Prix do Cannes Lions, com o ótimo Bluesman, um disco sobre as mazelas de jeito pop.
O que não faltam são nomes dentro desse midstream que estão aí para serem ouvidos e para derrubar essa máxima de que só tem ;merda; na música brasileira. O que falta é mudar o olhar. Esse olhar, por vezes, preconceituoso ao mainstream, ou aquele que não quer ver esse enorme movimento do midstream. Mude o seu também. E aumente o som, você vai gostar de ouvir!