Jornal Correio Braziliense

Opinião

Juventude vulnerável


Pobre país que não cuida de suas crianças e adolescentes que representam o futuro e não lhes proporciona o básico para que tenham uma vida digna. Isso é o que acontece no Brasil, incapaz de oferecer aos jovens o mínimo necessário, principalmente nas áreas de saúde, educação e saneamento, conforme mostra o diagnóstico Bem-Estar e Privações Múltiplas na Infância e Adolescência no Brasil, recentemente divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O quadro é desalentador. De acordo com o organismo internacional, só será revertido com investimentos em políticas públicas voltadas a esses setores mais vulneráveis.

O saneamento básico é a carência que causa o maior número de problemas para a juventude brasileira. De cada 10 privações impostas a crianças e adolescentes no país, três estão relacionadas à falta do provimento de esgoto e abastecimento de água potável. O estudo revela que o pior cenário, na Região Sudeste, se encontra em Minas Gerais, seguido por Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. No Brasil, 24,8% dessa parcela da população é privada desse direito básico. Diante dessa realidade, os governos federal, estaduais e municipais devem se esforçar, ao máximo, para atender essa faixa populacional que enfrenta extrema limitação quanto ao esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e acesso à água potável.

O estudo do Unicef reconhece que houve avanços nos últimos anos, mas que muito ainda precisa ser feito. Isso porque as disparidades são, ainda, muito grandes entre as áreas urbana e rural, entre negros e não negros e entre ricos e pobres. Outro problema detectado é que a maior parte das crianças e adolescentes brasileiros sofre com mais de uma privação. Além da falta de saneamento, o levantamento aponta outras carências nos setores de proteção contra o trabalho infantil, violência, moradia, acesso à informação e renda.

O contingente de menores que sofre com a desnutrição continua enorme, o que não pode ser tolerado pela sociedade. Os governantes têm de se conscientizar de que o melhor investimento que podem fazer é apostar na juventude. Não só por questões humanitárias, mas também econômicas. Segundo Florence Bauer, representante do Unicef no país, para cada real investido na primeira infância, há um retorno entre R$ 7 e R$ 10.

A violência é outro item destacado pela integrante da Unicef, que não esconde sua preocupação com o elevado número de menores assassinados por ano, em torno de 11 mil, dado absoluto mais alto do mundo. Essas vítimas são, em sua grande maioria, meninos negros que estão fora da escola há mais de seis meses. Ela lembra que, no Brasil, enquanto os homicídios de adolescentes brancos estão diminuindo, os de negros aumentam. O quadro exposto pela organização mundial deve servir de parâmetro para que as autoridades, em todos os níveis governamentais, voltem seu olhar para questão de fundamental importância para o país. O Brasil não pode deixar à margem aqueles que serão os responsáveis pela construção de seu futuro.