É alentadora, pois, a notícia da criação de 121.387 postos de trabalho em agosto. Acrescentem-se dois fatos auspiciosos. Um: trata-se do melhor resultado para o mesmo mês desde 2013, quando se iniciou a perda de velocidade do PIB e se abriu espaço para a maior recessão nacional. O outro: desde julho, há, portanto, cinco meses, cresce o número de vagas no mercado formal ; com carteira assinada, garantias da legislação trabalhista, remuneração mais alta e condições de trabalho dignas.
Em 2019, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou a geração de 593.467 vagas. Comparado com o mesmo período do ano passado ; 568.551 postos ;, houve acréscimo de 24.916 ocupações. Chama a atenção o ramo de serviços, que abriu 61.730 postos ; com destaque para os segmentos de educação e de administração de imóveis. Também o do comércio sobressaiu, com 23.626 vagas sobretudo no varejo.
O avanço dos serviços e do comércio acena para uma recuperação alentadora. Três indicadores a alicerçam: o incremento na oferta de crédito, a elevação da confiança das famílias e a volta do consumidor às compras. Dos oito ramos em que se divide o mercado de trabalho, só dois tiveram queda, mas ambos não preocupam. Um deles, o de serviços industriais de utilidade pública, perdeu 77 vagas, oscilação natural no setor. O outro, o da agropecuária, somou 3.341 postos em razão de fatores sazonais.
A lenta mas contínua melhora na absorção da mão de obra formal sinaliza, como disse o governo, a recuperação gradativa do emprego e do crescimento econômico. Duas condições favorecem a retomada. De um lado, os sucessivos cortes da taxa básica de juros que chegou a 5,5% com sinalização para nova tesourada até o fim do ano. De outro, o controle da inflação. Analistas projetam inflação de 3,44% para 2019, inferior à meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (Copom).
São números alentadores, mas ainda frágeis. Para a melhora sustentável, impõe-se restabelecer a confiança na solvência do Estado. Ela passa necessariamente pela reforma da Previdência e outras mudanças. Entre elas, a racionalidade na cobrança de impostos, a redução da burocracia, a segurança jurídica. Ambiente mais amigável atrai investimentos substantivos, essenciais para a aceleração do crescimento. Governo e Congresso devem atuar efetivamente para levar avante o ajuste amplo da economia. Só assim o voo de galinha dará vez ao voo de águia.