A tendência inelutável não afeta só as pessoas. As instituições seguem o mesmo script. Vale o exemplo do Senado. Líderes da Câmara Alta tomaram decisão que lançou nuvem escura sobre medida que parecia dirigir-se até o ponto final sem turbulências. Trata-se da reforma da Previdência. Aprovada na Câmara, a proposta de emenda à Constituição encontrou a casa revisora preparada para dar-lhe prosseguimento rápido, respeitados os prazos regimentais. Temas mais polêmicos buscaram abrigo na PEC paralela.
Lido o relatório, foi marcada a votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para terça-feira, dia 24. Mas ficou o dito pelo não dito. O presidente Davi Alcolumbre conjugou dois verbos de sentidos opostos. De um lado, antecipou a análise dos vetos à lei de abuso de autoridade. Das 33 impugnações presidenciais, o Congresso derrubou 18. De outro, adiou a votação da PEC da Previdência.
Mas informou que o calendário será mantido. No dia 1;, haverá duas votações: uma na CCJ e outra no plenário do Senado. Ou, talvez, o colegiado faça a sua parte no dia 2. De qualquer forma, até 10 de outubro, será votado o segundo turno da proposta. Espera-se que as promessas se transformem em ações. Se há alguma coisa de que o país não precisa é de mais um fator de insegurança. Não por acaso, a bolsa caiu depois do anúncio da postergação e lobbies poderosos se articulam para derrubar dispositivos até então pacificados.
A presidente da CCJ, senadora Simone Tebet, classificou o adiamento de ;erro de estratégia;. Talvez seja. O inaceitável é haver razões menos republicanas para a manobra e, com ela, deixar em segundo plano o interesse nacional. É o caso de dar resposta à operação da Polícia Federal realizada contra o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, considerada abuso de autoridade pela cúpula da Casa. Ou de pressionar o governo a cumprir promessas feitas a parlamentares pela aprovação da reforma ; pagar emendas a deputados antes da votação do Senado.