Ágatha não foi a única que teve uma vida interrompida precocemente por uma bala perdida. Ela é a quinta das 16 crianças baleadas a morrer baleada, este ano, no Rio de Janeiro. Antes dela, Jenifer Gomes, 11 anos, Kauê dos Santos, 12, Kauã Rozário, 11, e Kauan Peixoto, 12, também foram enterrados com os sonhos e as juventudes. As informações são da plataforma Fogo Cruzado, uma página na internet que alerta sobre tiroteios no estado carioca e noticia as mortes que acontecem nas áreas periféricas do Rio de Janeiro.
É impossível não se abalar com dados como esse. Impossível não se colocar no lugar do outro. Quer dizer, parece que, para alguns, é possível, sim. O primeiro pronunciamento oficial de autoridades veio só no domingo. O governador do Rio de Janeiro convocou uma coletiva para a tarde de ontem. A impressão que fica é que a morte de crianças nas favelas por bala perdida tem se naturalizado, é só mais uma estatística.
Isso me fez lembrar de uma música de Elza Soares, Não tá mais de graça, composta por Rafael Mike e que integra o disco Planeta fome (2019). Na canção, a cantora fala sobre como as tais balas perdidas têm um endereço certo: ;Não tem bala perdida, tem seu nome/ É bala autografada;. Se você dúvida, neste ano, o Atlas da Violência mostrou que 75,5% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. A taxa de homicídio para a população negra foi de 43,1 para cada 100 mil, enquanto para a branca foi de 16 para a mesma quantidade.
Que a gente não esqueça de Ágatha e de todas as outras crianças assassinadas. Que a gente lute por um Brasil com mais segurança. Quem sabe um dia a gente encontre o Brasil citado em País dos sonhos, de Elza Soares ; também de Planeta fome ;, que ;não ouse condenar só negros e pobres;.