Todo o dia, o Sol nasce a Leste e se põe a Oeste. Sobre o Equinócio, me disse certa vez minha filha Iris, de 11 anos: ;Pai, hoje o sol nasce no Leste. Exatamente no ponto cardeal Leste. E se porá precisamente no ponto cardeal Oeste. Aproveitem para acertar as bússolas!
No Equinócio, o Sol percorre ou traça, a pino, a linha do Equador. Os postes não têm sombra ao meio dia na região equatorial, como em Macapá. Ali será possível ver o disco solar no fundo de um poço, ao meio-dia, algo impossível em Santa Catarina, onde ele nunca fica a pino.
Em nosso hemisfério austral começa a primavera. Hora de plantar árvores, cujo dia acabamos de celebrar. E não em junho, em pleno inverno, com seca e queimadas. Tão comum em campanhas escolares, municipais e de ONGs colonizadas pela celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho. No hemisfério boreal, lá no Norte, eles estão na primavera. Aqui não. Pode-se plantar árvores o ano todo, mas melhor na primavera e no verão.
Para as civilizações do Hemisfério Norte, o equinócio de primavera era muito significativo. O ano babilônico, egípcio, grego e romano começava no equinócio de primavera. Lá pelo 20 ou 21 de março. Na tradição judaica, foi nesse dia que Deus criou o Universo. O dia da Criação.
Que Jesus nasceu um dia, ninguém nega. Para fixar e festejar a data, em coerência com os ciclos cósmicos, a Igreja Católica fixou em 25 de março, no Equinócio de primavera, a anunciação, a concepção, o dia em que Maria engravidou. Daí a homenagem na rua 25 de março. O dia de uma nova Criação. Nove meses depois, nasceu Jesus, em 24 de dezembro, em pleno Solstício. Mas isso é outra história.
O Cristianismo deslocou o início do ano do Equinócio para o tempo da manifestação pública do Senhor: 1; de janeiro. Resultado: o mês 7, setembro, virou nove. O mês 8, outubro, virou 10 e por aí foi. Agricultores e todos que fazem a marcação do sol verão seu deslocamento aparente para o Sul. A cada dia, ele nascerá mais ao Sul.
A beleza dos ciclos cósmicos, tão arquetípicos, está na raiz da própria palavra. No grego antigo, cosmos, evoca beleza, ordem. Como em cosmética. A beleza matemática dos ciclos celestes, terrestres e humanos.
*Evaristo Miranda é chefe da Embrapa Territorial