Tudo diferente
Sou um apaixonado por caminhada. Passei décadas acordando cedo e saindo pelas ruas do meu bairro apreciando o raiar do dia que sempre chega acompanhado pelo gorjeio dos pássaros. Essa prática me fazia um bem danado, melhorava a minha qualidade de vida. Mas de uns meses para cá, tive que abandonar essa minha paixão. Explico porque: durante a campanha para as eleições presidenciais de 2018, fiz a cabeça de muitos amigos para que votassem em Jair Bolsonaro. Eu acreditava no discurso dele. Eu apostava que seria tudo diferente. Eu cheguei a dizer que o Messias veio para salvar o Brasil e que ele seria um grande presidente. Não posso mais fazer a minha atividade física. Parei. Quando saía cedo, não via ninguém pelas ruas, até aí tudo bem. Mas, quando retornava, as pessoas passavam de carro e gritavam: ;Cadê o Bolsonaro? Eu quero o meu voto de volta!” Fui ficando envergonhado e achei por bem esperar um tempo para ver se consigo um dia dar uma resposta àqueles que acreditaram que seria tudo diferente.
; Jeovah Ferreira,
Taquari
Apelo
Eu, eleitor do presidente Bolsonaro, acredito que ele colocará o país no caminho certo. Mas tem um fato que está incomodando o eleitor que o colocou no Palácio do Planalto: as constantes declarações e opiniões que os três filhos do presidente emitem. Cada vez que um filho se pronuncia, é motivo de muita polêmica em todos os setores da sociedade. No último episódio, o vereador Carlos Bolsonaro falou o que não devia falar num momento de turbulência que atravessamos. Então, senhor presidente, pedimos, encarecidamente, que Vossa Excelência assuma o comando do país. Esses comentários deles só provocam insatisfação aos seus eleitores. O Brasil precisa sair dessa crise política, social e econômica. Não queremos a volta do partido que quebrou o Brasil e deixou 13 milhões de desempregados.
; Sebastião Machado Aragão,
Asa Sul
Independência
O Ministério Público Federal lembra o Dom Quixote, de Cervantes, nessa briga inglória contra os moinhos da lista tríplice. Luta inglória porque não existe fulcro jurídico para exigir o pleito dos procuradores por uma escolha entre três candidatos, quando a Constituição prevê que a decisão é de livre arbítrio do presidente da República. O MPF é uma categoria forte e influente, por que, então, não sugere um projeto de emenda constitucional estabelecendo que o procurador-geral da República será escolhido entre todos os procuradores, em escrutínio a ser determinado pela sua classe? E mais: poderia incluir também que os ministros do Supremo Tribunal Federal seriam escolhidos pelos ministros dos Tribunais Superiores, não ficando à mercê dos bons olhos do presidente da República. Aí, sim, teríamos os quatro poderes da República harmônicos e independentes. Convenhamos, pode haver independência de um STF ou da PGR, quando a escolha é ao bel-prazer do chefe do Poder Executivo?
; Paulo Molina Prates,
Asa Norte
Caixa 2
Esperava-se que a renovação do Congresso, nas últimas eleições, levasse ao Legislativo pessoas com mais austeridade e honestidade. Ledo engano. A turma eleita é tão nociva (senão pior) quanto a anterior, pois o Centrão não foi dissolvido nem as bancadas do atraso. Aprovaram a Lei de Abuso de Autoridade, uma forma de dissolver as operações do Ministério Público e Polícia Federal contra a corrupção. Estão empenhados em elevar em mais de R$ 3 bilhões o Fundo Eleitoral que, na verdade, é uma excrescência, sobretudo quando as universidades federais, a rede pública de saúde estão em absoluta penúria, com consequências gravíssimas às pesquisas e à vida das pessoas. Mas para os parlamentares, os interesses da sociedade não têm a menor importância. A passos largos, tramita no Congresso PL 11.021 que favorece o caixa 2, um instrumento que legaliza a corrupção no processo eleitoral. Hoje, os partidos e candidatos têm que usar, por meio eletrônico, o Sistema de Prestação de Contas Anual para explicar os ganhos e despesas à Justiça Eleitoral. Pelo projeto aprovado pela Câmara e enviado ao Senado, partidos e candidatos poderão usar qualquer sistema de contabilidade disponível no mercado. Assim, partidos e parlamentares escancaram a intenção de driblar as restrições legais, que impedem o financiamento privado de campanha, em claro e indiscutível acinte às normas que impõem barreiras e criminaliza o caixa 2. Mais um marco legal em favor da corrupção.
; Benjamim Costa,
Sudoeste