Jornal Correio Braziliense

Opinião

Artigo: Combata, não apoie a covardia

Muitos pais ou responsáveis ainda tratam crianças e adolescentes como propriedades, acham que podem fazer o que quiserem com eles em nome da ''disciplina'' e da ''educação''

Nesta semana, o Correio publicou uma série que fiz sobre violência contra crianças. A primeira das reportagens abordou as agressões e os castigos físicos. No dia em que a matéria saiu, uma amiga me procurou para contar o episódio desolador presenciado por uma colega dela. No fim de semana passado, uma mãe agrediu repetidamente o filho, de uns 5,6 anos, próximo à piscina de um clube social de Brasília. Havia muita gente dentro e fora d;água, mas ninguém saiu em defesa da criança, até que uma mulher resolveu fazê-lo. Pediu para a mãe parar de bater na criança e tentou conscientizá-la de que o que fazia era errado, proibido por lei. As outras pessoas que estavam ao redor ficaram ao lado da mãe do menino e se revoltaram com a mulher que saiu em socorro dele. Algumas berravam que era para bater mesmo, para corrigir, ;se não o fizer, eles viram marginais quando crescerem;. O local virou uma confusão, com todos contra essa mulher corajosa, consciente de que o garoto estava sofrendo uma violação e não sendo ;educado;.

Minha amiga estava arrasada quando me repassou o caso. ;Por que bater em criança é educar, quando bater em qualquer outro ser é cruel e inadmissível? Bater em idosos é violência, em animais, em mulheres, em homens, em deficientes. Crime. Já em crianças, educação. Não faz sentido;, disse-me ela. ;Da violência não nasce educação, apenas medo, raiva, decepção, trauma. Quem bate nos filhos, seja por qual motivo for, trai o amor e a confiança das crianças, machuca seu corpo e sua alma.;

É isso mesmo, minha amiga. Muitos pais ou responsáveis tratam crianças e adolescentes como propriedades, acham que podem fazer o que quiserem com eles em nome da ;disciplina; e da ;educação;. É essa cultura nefasta e arraigada na sociedade que fez com que todas aquelas testemunhas no clube considerassem normais as agressões contra a criança e se revoltassem com quem foi defendê-la. É contra esse mal que temos de lutar. Castigos físicos e tratamento cruel e degradante são proibidos pela Lei Menino Bernardo. Agressões que provocam fraturas, arranhões, traumatismo, hematomas, entre outras lesões, são punidas pelo Código Penal.

Todos nós temos de nos engajar no enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, conscientizando as pessoas e denunciando os episódios. Tem de ser uma batalha permanente para varrer do país essa crueldade. Meninos e meninas não têm condições de se defender sozinhos, essa missão tem de ser de todos nós.