Opinião

Artigo: Violência invisível

Fica evidente que o número de estupros e outras variações da violência sexual no DF é muito mais alto do que se imagina

Adriana Bernardes
postado em 12/09/2019 09:00
Letícia Curado e Pedrolina da Silva, assassinadas no Distrito Federal
Os assassinatos de Letícia Curado, aos 26 anos, e de Pedrolina Silva, 50, trouxeram à luz casos de abuso sexual que a Polícia do Distrito Federal desconhecia. Ao verem assassinos confessos na mídia, elas reuniram forças e procuraram as delegacias para registrar a violência que as silenciou por meses, até anos. Arrancaram a casca e cutucaram a ferida à exaustão a fim de, finalmente, ver os agressores pagarem pelos seus crimes.

Ao fim da investigação, pode-se até chegar à conclusão de que os assassinos de Letícia e Pedrolina não violentaram todas as mulheres que buscaram ajuda policial desde a divulgação dos casos. Mas fica evidente que o número de estupros ; e outras variações da violência sexual ; no DF é muito mais alto do que se imagina. E é preciso encorajar as mulheres a denunciar.

[SAIBAMAIS]Entende-se por encorajar, não apenas a divulgação de campanhas sobre a importância da denúncia. Isso é o de menos. É preciso criar as condições para que as mulheres se sintam acolhidas e cuidadas nas delegacias, nos batalhões da Polícia Militar, nas escolas e na rede pública de saúde. Há muitos tabus nesses ambientes que precisam ser quebrados: machismo e preconceito, principalmente.

Ouvir os relatos de mulheres vítimas de violência é avassalador não apenas pelo fato em si. Mas por outras violências a que são submetidas no momento de prestar a queixa. Nem todos os policiais têm a sensibilidade no atendimento a essa vítima. E isso se muda com política pública e com treinamento nas corporações.

É incontestável que vítimas de violência de qualquer natureza, sobretudo a sexual, precisam de amparo psicológico para superar o trauma. Mas os relatos das vítimas revelam que a rede pública não tem profissionais em número suficiente para dar vazão à demanda. Algumas ingressam em grupos de apoio ou buscam socorro em organizações não governamentais (ONGs). E outras tantas, morrem um pouquinho a cada dia, abandonadas à própria sorte.

Quem não foi vítima de violência também está acorrentada a ela. É como um fantasma diário à espreita nas esquinas, atrás dos muros, nas paradas de ônibus ou dentro deles. Policiamento, limpeza de terrenos vagos, iluminação pública são algumas das ações que podem contribuir para maior segurança de todas as pesssoas, mas especialmentedelas que, além do medo de serem assaltadas nos seus deslocamentos, convivem com o temor de serem estupradas ou assediadas até dentro do transporte público.

Mas a mudança de que necessitamos é ainda mais profunda. É estrutural, é cultural. Deve ocorrer a partir dos núcleos familiares, nas escolas, em palestras nas empresas públicas e privadas e nas entidades religiosas. E a coisa mais importante a ser aprendida é: a mulher é um ser de direitos e, como tal, precisa ser respeitada! Em caso de violência, denuncie: Disque 180; Polícia Civil: 197 e Polícia Militar: 190.

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