Em média, duas mulheres foram vítimas de feminicídio por mês na capital da República este ano. Levantamento do Correio revela que, entre janeiro e agosto, 19 foram assassinadas por serem mulheres. Os números excluem outros tipos de violência praticados contra elas, como violência sexual e homicídios. Após o assassinato da advogada Letícia Curado, a insegurança diária a que elas estão expostas tem sido tema de reportagens nos diferentes meios de comunicação. Nenhuma novidade para quem enfrenta uma rotina de medo desde a mais tenra infância.
Em meio a tantas tragédias, a pergunta que se faz é: mais quantas mulheres serão assassinadas no Distrito Federal para que as autoridades quebrem o silêncio, a inércia e comecem agir para evitar essas mortes? O que ainda falta acontecer para que se perceba que as estruturas e os projetos existentes são insuficientes para dar respostas efetivas e proteger as vítimas antes que acabem numa sepultura deixando para trás filhos, pais, irmãos e amigos?
[SAIBAMAIS]Na edição de domingo, o Correio divulgou o resultado de uma tese de doutorado que traz inúmeros apontamentos para que o poder público comece a agir. A doutora em transportes pela Universidade de Brasília (UnB) Adriana Souza é autora de uma pesquisa que revela o quanto a cidade é hostil para as mulheres nos seus deslocamentos a pé. Foram analisados três fatores: infraestrutura urbana, segurança pública e questões socioculturais em Brasília e em Lisboa (Portugal).
No caso de Brasília, chegou-se à conclusão de que as mulheres sentem a necessidade de desenvolver estratégias para exercer o direito constitucional de ir e vir para o trabalho, para a escola e para os espaços destinados ao lazer. A pesquisadora concluiu que ela não é vulnerável. Ela se torna vulnerável por uma série de fatores socioculturais que não a levam em conta durante o desenvolvimento da cidade. E que por iguais motivos, elas são constantemente coagidas e perseguidas quando andam pelas urbes.
A violência contra a mulher é um problema complexo e que exige ações integradas de diferentes setores do governo, além do envolvimento da sociedade civil e dos poderes Legislativo e Judiciário. Em um evento do Tribunal de Justiça, no mês passado, foi dito que ainda não se sabe se houve aumento de crimes praticados contra mulheres por motivo de gênero ou se elas estão denunciando mais os casos que ficavam entre quatro paredes. Mas de uma coisa não se pode ter dúvida: é preciso fazer algo e é para já. A morte está à espreita e a próxima vítima pode ser qualquer uma de nós.