Em novembro do ano passado, o Correio publicou um artigo meu em que descrevia uma visão de como seria a nossa gestão. Expliquei por que o investimento na educação pública deve ser a prioridade máxima de qualquer governo, que a rede distrital de educação tem várias vantagens em relação a outras redes estaduais e elenquei os principais desafios: infraestrutura, condições de trabalho, políticas efetivas de formação continuada, de reconhecimento, comunicação, articulação e transparência.
A partir da transição, nos debruçamos sobre os dados e partimos para a seleção de uma superequipe e de um plano estratégico, todo baseado em evidências científicas, que chamamos de EducaDF. Esse plano contém cinco bandeiras e foi apresentado antes de outras áreas e antes de outros secretários estaduais, ainda no fim dos 100 primeiros dias de governo.
As bandeiras são como guarda-chuvas de ações e políticas a serem implementadas durante os quatro anos de governo, com focos específicos: a primeira prioriza o cuidado e a formação de profissionais; a segunda se preocupa com a violência e com a indisciplina nas escolas; a terceira é uma macropolítica de ação afirmativa, focando nas instituições que mais precisam de apoio; a quarta, olha para os alunos e estabelece estratégias para melhorar o acesso e a qualidade dos serviços oferecidos; a quinta, finalmente, mira inovações com e sem as novas tecnologias. Cada bandeira inclui um conjunto de ações e a equipe está criando os indicadores de sucesso para cada uma delas.
Durante esses quase oito meses em que estive à frente da pasta, descentralizamos e melhoramos os cursos de formação continuada, triplicando o número de professores cursistas. Investimos R$ 43 milhões em reformas de pequeno e médio porte para que 405 de nossas escolas pudessem ser ainda mais acolhedoras e inspiradoras. Começamos a adoção de metodologias ativas de aprendizagem, e de mais inovação em sala de aula. Ampliamos a internet de qualidade em mais de 200 escolas e começamos a troca de todo o parque tecnológico, com mais de 7 mil computadores e prevendo computadores, projetores ou tevês em todas as salas de aula. Criamos as Viradas Pedagógicas, um dia no mês em que toda a rede deve refletir e estudar os temas mais relevantes, como saúde mental e competências socioemocionais. Começamos a produção de material didático próprio. Criamos as Caravanas da Educação para que todos os assessores e chefes de áreas pudessem conhecer a ponta, o que temos de bom, de ruim, para ouvir e estimular quem está, de fato, ;carregando o piano;. Visitamos entre oito e 10 escolas por semana, quase 150 escolas durante os primeiros sete meses. Essas foram algumas das várias ações implementadas com sucesso e com resultados reconhecidos não só pela rede, mas também por toda população.
Apesar de termos uma equipe bem qualificada e comprometida e um plano a ser seguido, não nos faltam desafios a serem superados. Por conta do orçamento gigantesco da pasta, interesses diversos atrapalham um trabalho que deveria ser 100% técnico. A frequência de ingerências ;políticas; é alta, como a indicação de centenas de nomes, vários sem conhecimentos ou competência necessários para fazer um bom trabalho. Na desenho atual do GDF, nenhuma pasta consegue fazer, realmente, o seu planejamento orçamentário. O orçamento aprovado nasce deficitário e a Secretaria de Economia controla todos os pagamentos. Em muitas escolas, a participação das famílias e comunidades é baixa e estávamos criando um novo programa para tentarmos reverter este quadro. A motivação dos profissionais da educação é um fator que precisa de atenção constante e a valorização salarial não pode ser deixada de lado.
Neste segundo semestre, algumas questões nos pareciam mais relevantes: é preciso conscientizar profissionais e alunos sobre a importância da Prova Brasil e todas as provas externas. Mesmo sabendo que elas não são perfeitas, elas são o que temos de melhor, geram nossos indicadores oficiais e mostram a cara da educação do DF para todo o Brasil. Além disso, nós criamos uma proposta para modificar a lei da gestão democrática. Nossos diretores de escola precisam ter formação e ferramentas adequadas, mas também devem ser avaliados. Para que alguém se candidate a esse posto, precisa comprovar que tem o perfil e o conhecimento necessário. Finalmente, estávamos começando a planejar o ano de 2020, com uma série de mudanças benéficas para profissionais e comunidades escolares.
Transformar qualquer rede educacional é algo complexo, que requer diálogo, planejamento e avaliação constantes. Nenhum gestor conseguirá melhorar a educação trabalhando contra professores, profissionais ou comunidades escolares. Ou se trabalha com eles, ou o fracasso da gestão é garantido. Com isso em mente, lideramos uma gestão moderna, que em pouquíssimo tempo obteve excelentes resultados, alta aprovação da rede e da população. Uma gestão profissional e efetiva não pode estar relacionada a decisões rápidas e, por vezes, intempestivas. Tampouco ela pode ser galgada em decisões autoritárias. Os melhores gestores são profissionais que inspiram, escutam, confiam e respeitam. Isso é verdade para qualquer área, mas, principalmente, para a educação. Meu muito obrigado a todos que me abraçaram e me deram tanto carinho durante esse período em que fui secretário de Educação do Distrito Federal.