Jornal Correio Braziliense

Opinião

O diálogo como defesa

Crianças que são orientadas sobre seus direitos têm a capacidade de reagir mais rapidamente quando se tornam alvo de algum tipo de violência ou veem acontecer com outras. Conseguem denunciar para pais, responsáveis ou alguém de confiança. Por isso, o diálogo frequente com elas é imprescindível ; além de prazeroso.

Foi conversando sobre bullying com as crianças lá em casa, há alguns anos, que descobri, por exemplo, que uma delas estava sofrendo constrangimento na escola. Não gostava das aulas de educação física porque um coleguinha fazia piadas sobre seu peso. Isso a oprimia. Nós procuramos a direção do colégio e relatamos a situação. O problema cessou.

Um dia desses, uma agente da polícia me contou que na escola da filha dela houve um semestre em que foi abordado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). ;Depois disso ; e já aconteceu mais de uma vez ;, quando vou buscá-la na escola, ela diz: ;Mamãe, eu tenho um caso para você. Um coleguinha sofreu bullying. Disseram isso, isso e aquilo dele;, relatou. Para a policial, crianças têm hoje uma percepção maior do que pode ou não pode, mesmo entre elas. ;A criança fica mais tranquila para contar para um adulto, mesmo que o fato não tenha acontecido com ela. Se vir, vai dizer.;

Há mais dois temas importantíssimos que devem ser tratados com meninos e meninas. Um deles é o abuso físico e psicológico. Eles devem saber que os limites impostos por pais ou responsáveis são necessários para a formação deles, mas que ninguém, sob nenhum argumento, tem o direito de espancá-los ou humilhá-los. O outro, é o abuso sexual. Precisam ser orientados sobre quais partes do corpo deles podem ou não ser tocadas por outras pessoas, ser questionados se alguém os tratam de forma incômoda.

Muitas vezes, crianças se retraem, sofrem caladas por não saberem que a violência de que são vítimas é algo errado, seja praticada pelos próprios pais, seja por alguém de confiança. Informações podem ser um meio de defesa, de fazer cessar o sofrimento. Meninos e meninas cientes de seus direitos crescem com outra mentalidade, em relação a si mesmos e aos outros.