Depois de 13 anos, tive a oportunidade de assistir novamente a uma peça chamada Alma imoral. A atriz, a mestra Clarice Niskier, presenteia o público com um monólogo baseado na obra do rabino Nilton Bonder. Um texto denso, daqueles que deixa você pensando por dias e dias, anos e anos, que fala de religião, civilização, vida, política ; por que não? ;, tradição e traição, de se assumir. E dou um pequeno spoiler, nada que vá estragar a ida da pessoa ao teatro: a necessidade de seguir em frente, de continuar a marcha porque o mundo não para. Não para por você, não para por mim, não para porque esta ou aquela pessoa tem determinada opinião.
Na semana passada, falei do esforço que o papa Francisco faz atualmente para defender o meio ambiente, em geral, e a Amazônia, em particular ; vide o sínodo de outubro que falará sobre o assunto. O pontífice vem sofrendo muitas críticas, mas não para. Ele segue com o discurso do Evangelho em favor dos pobres e da preservação da natureza ; porque, em última instância, é a preservação do próprio ser humano. E a fé. Mesmo que isso signifique ultrapassar limites e, por exemplo, autorizar padres casados a celebrarem a Eucaristia. Seria ;trair; a tradição para ajudar o crescimento interior. Algo que já foi feito antes pela Igreja Católica. Por exemplo, na mudança, aos poucos, do respeito a outras religiões.
Em uma das passagens da peça Alma imoral, Clarice Niskier fala da travessia do Mar Vermelho pelo povo judeu. Deus diz a Moisés que eles marchem. Que não se joguem na água, não voltem, não lutem: apenas marchem. Assim, o mar se abre. Não porque o povo marcha, mas porque Deus fica tocado com a dedicação, a entrega, a fé daquelas pessoas. Então, Ele permite. É preciso marchar, continuar, seguir em frente. Em nome da preservação do meio ambiente, é necessário falar, lutar, expor a destruição. Porque a desflorestação na Amazônia não vai parar. A ganância do ser humano não vai parar.
A ONG de pesquisa Imazon mostra que 5.054km; da floresta foram destruídos em um ano ; um aumento de quase 40% em relação ao período anterior. Os dados oficiais, que vêm do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real e do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite, mostram situação ainda pior. Não é questão de ;ficar mal; para o Brasil lá fora ou de discursos falaciosos tentando diminuir o número. A destruição existe e tem que diminuir pelo bem dos brasileiros, pelo bem do mundo. Alguém tem que marchar para que o desmatamento e o desrespeito às comunidades indígenas da Amazônia sejam interrompidos. Se não forem os governantes, a sociedade precisará fazer isso. Marchar.