A cada 15 minutos, um brasileiro é vítima de acidente de trânsito. Poucos anos atrás, os dados eram mais dramáticos. No fim de 2011, 43.256 pessoas foram a óbito nas ruas e estradas. Em 2017, o número de vítimas de colisões e atropelamentos caiu para 34.236, uma redução de 20,85%, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
Mas a queda nos índices brasileiros não coloca o país em melhor situação frente a outras nações. Estamos longe de alcançar a meta da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável de reduzir à metade o número de mortos e feridos em acidentes de trânsito em todo o mundo, estimado em 1,35 milhão, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. O Brasil ainda ocupa a quarta posição em tragédias nas vias urbanas e estradas.
Crianças e jovens entre 5 anos e 29 anos representam a maioria do total de óbitos. Muitos dos que se salvam ficam incapacitados ou elevam os custos do poder público com o setor saúde. Eles demandam serviços de reabilitação e investigação do acidente, com perda ou redução de produtividade. No Brasil, os sobreviventes de acidentes ou de atropelamentos ocupam 60% dos leitos hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na maioria dos países, as tragédias nas rodovias consomem 3% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado, o Seguro DPVAT (danos pessoais causados por veículos automotores) pagou mais de 320 mil indenizações. Do total, 70% foram para vítimas com algum tipo de invalidez permanente.
No Brasil, 90% das colisões letais entre veículos são causadas por erro humano: excesso de velocidade, imprudência ou desatenção dos motoristas, ingestão de álcool, desobediência à sinalização e ultrapassagem indevida. Nos últimos 20 anos, o poder público, a partir do Código de Trânsito Brasileiro, vem impondo mais rigor à legislação para salvar vidas. As iniciativas resultaram em punições mais severas, inclusive com a perda de habilitação e pesadas multas pecuniárias. As penalidades são duras a quem dirige alcoolizado (Lei Seca), não faz uso de cadeirinha para crianças, ignora a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança e do capacete ao trafegar em motocicletas.
A indústria automobilística também está engajada no esforço de diminuir os acidentes. Os carros novos saem de fábrica com airbag frontal, motocicletas chegam ao mercado com freios ABS ou CBS, que tornam a frenagem mais rápida e eficiente. Instituições do terceiro setor têm participação expressiva no Maio Amarelo, campanha de conscientização de condutores, iniciada há seis anos. A educação para um trânsito mais seguro e menos violento tem chegado às escolas, com o intuito de conscientizar os futuros condutores.
Há, portanto, uma grande rede em favor da vida e contra a violência no trânsito. Qualquer iniciativa ou decisão governamental que trafegue na contramão da Década de Ação pela Segurança no Trânsito ou que afrouxe a legislação brasileira implica irresponsabilidade ou conspiração contra a integridade dos cidadãos. Hoje, cabe ao poder público investir mais na segurança dos que trafegam nas rodovias nacionais, aumentar a fiscalização, melhorar a sinalização das vias, manter os redutores de velocidade e intensificar as campanhas educativas. Exemplos do que ocorria no passado não condizem com o patamar de desenvolvimento alcançado pelo país, menos ainda com o padrão civilizatório do século 21. Seriam retrocessos que levam à morte.