Fake News ; expressão herdada do idioma inglês ; consiste no conjunto de notícias falsas, inverídicas e levianas divulgadas maciçamente por meio de veículos de comunicação, como se fossem notícias idôneas e fidedignas. As fake news têm como principais objetivos a legitimação de pontos de vista políticos, ideológicos, filosóficos, acadêmicos ou religiosos, e detém altíssimo poder de viralização, espalhando-se com velocidade absurda. Destroem reputações, inflamam grupos sociais, promovem desordem, insegurança, instabilidade, escândalos políticos e até familiares.
E do que as fake news, esse monstrengo abominável, efetivamente alimenta-se? As fake news se alimentam da ignorância pura e simples; de uma paixão incontrolável pela mais rasteira das futricas; de um ânimo beligerante gratuito, cujas raízes não serão agora abordadas; do amor à bizarrice e ao escatológico, coisa que nós, brasileiros, cultivamos em excesso; da necessidade constante de que a pseudociência se apodere dos corpos e das almas inocentes ; que, é bem verdade, não são lá assim tão inocentes, uma vez nos intoxicamos reciprocamente com isso.
A história das fake news, acreditem, é muito mais antiga do que parece. A nossa incomparável linguagem, ao que tudo indica, perseverou e corroborou na evolução humana como uma maneira explícita de partilhar ; e até mesmo de patrulhar, já que abordava comportamentos normalmente tidos como reprováveis ; as peculiaridades e notícias sobre o mundo. Era mais interessante, então, conhecer e debater uns sobre os outros, apurar quem eram as fêmeas melhores parideiras, os machos mais viris (e os menos, como ainda hoje acontece), os acampamentos mais bem estruturados, as invejas, as soberbas, as ganâncias, as vaidades, as gulas, as luxúrias, as preguiças (vixe, elenquei os sete pecados capitais completos!), os indivíduos engraçados e os mal-humorados, os idôneos e aqueles que eram apenas velhacos.
Mas também havia desde aquele período algo ainda mais fascinante: aprendemos a inventar, a transmitir e a ecoar notícias e situações acerca de temas que jamais enxergamos, apalpamos, escutamos ou cheiramos. Temas mitológicos e ficcionais que, aos olhos da mais lídima ciência ; com seus protocolos e metodologias ; simplesmente não existem! A nossa própria mente, por meio de esquecimentos seletivos e preenchimentos de lacunas, cria-nos também notícias falsas.
Voltando agora aos turbulentos dias de hoje: o assunto fake news está em voga. Não porque o mundo inteiro se vale das fake news com um despudor vexaminoso no intuito de fazer prevalecer ideias e pensamentos, mas porque o mundo inteiro está mais idiota.
E, corroborando com a nítida e epidêmica idiotice, há os instrumentos da modernidade, o universo virtual gratuito e a todos democratizado, a velocidade e a voracidade da informação, as notórias redes sociais, a comunicação, a transmissão, o tratamento e o armazenamento de dados que interligam as pessoas em milésimos de segundos, muito embora por elos de correntes fracos e quebráveis.
A tendência à absorção de fake news não se relaciona com o padrão sócio/econômico/cultural do destinatário então ;seduzido;, como já se acreditou até muito recentemente. Já se sabe que a mediocridade não se vincula a um título acadêmico, sobretudo em uma nação que carrega um nível de analfabetismo funcional indescritível. E, por isso mesmo, qualquer normatização ou diploma jurídico que tente coibir, inibir, aplacar, minimizar, extirpar, erradicar ou criminalizar as fake news estará invariavelmente fadado ao maior e mais retumbante fracasso, por duas razões bem simples, e aqui já ditas: a) existe ignorância e leniência das pessoas no momento de se verificar a fonte de alguma notícia recebida; e b) as pessoas - com destaque especial ao nosso glorioso povo brasileiro - gostam, aliás adoram, ou melhor, idolatram um ;barraco; e uma boa fofoca, fazendo justiça à herança portuguesa, à escravidão, à Igreja Católica Apostólica Romana e respectivas ordenações canônicas, com as suas clausuras, seus segredos de confessionário e olhares de maledicência.
Lamentável é que ainda percamos o nosso tempo, dinheiro, saúde e lazer ao criar, divulgar e desmentir notícias falsas que o mínimo exercício de bom-senso detonaria por completo. Ou melhor dizendo: lamentável é que ainda sejamos tão ignorantes.