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Violência sem fim

A violência no Rio de Janeiro, cuja capital de mesmo nome, dia após dia, vai deixando de lado a alcunha de Cidade Maravilhosa, assusta cada vez mais. Nos últimos dias, o país assistiu, impotente, a escalada da guerra contra o tráfico, que ceifou a vida de cinco jovens e deixou destroçadas as famílias das vítimas. Essa triste e chocante realidade não é privilégio dos cariocas, pois em diversas outras ocasiões, em todo o Brasil, os confrontos entre policiais e bandidos tiraram a vida de cidadãos inocentes, incapazes de se defenderem.

O questionável é que posturas de autoridades de alto calado, como o próprio governador fluminese, Wilson Witzel, sejam favoráveis a ações violentas por parte de agentes de segurança. Isso só colabora para o aumento da perda de vidas, na maioria das vezes, de pessoas sem qualquer envolvimento com a criminalidade. A sociedade concorda que lugar de criminoso é na cadeia, mas repudia o uso da violência desenfreada por parte da polícia no combate à bandidagem.

Os responsáveis pela segurança pública não podem adotar somente o discurso de que o importante é o sistemático confronto com os transgressores da lei. Não podem se contentar apenas com os frios números das estatísticas, pois atrás deles estão a vida de seres humanos. Declarações de autoridades incentivando o abate de criminosos portanto fuzis, como fez o governador Witzel, por exemplo, acaba incentivando os policiais que estão nas ruas na batalha diária contra a criminalidade. E isso tem reflexos em todo o país, contribuindo para o sentimento de impunidade entre os agentes de segurança.

Quem saiu perdendo a vida nesta guerra sem fim que a população testemunha impassível, recentemente, no Rio, foram os anônimos Dyogo, Gabriel, Lucas,Tiago e Henrico, os dois mais novos com apenas 16 anos e os mais velhos com 21. Representavam o futuro do Brasil. Agora, não têm mais nada. E os discursos dos responsáveis pela segurança pública caem no vazio quando se trata da perda de vidas humanas

O último a ser abatido, o adolescente Dyogo, que sonhava em ser jogador de futebol, foi morto com um tiro nas costas em uma favela de Niterói. Era jogador das divisões de base de antigo e conhecido clube, o América. Recebeu um tiro quando ia para o treino e, na mochila, apenas as chuteiras. Não tinha mais nada dentro, a não ser o dinheiro da passagem de ônibus. Mas os policiais falaram para os familiares do jovem que ele era traficante, o que foi prontamente negado.

Henrico, também de 16 anos, perdeu a vida numa favela de outro município da região metropolitana do Rio de Janeiro, Magé. Ele havia ido à comunidade buscar uma motocicleta que estava numa oficina mecânica. Foi baleado com um tiro na cabeça. A polícia alega que ele estava armado, versão desmentida pela família.

Mortes inexplicáveis como as de Dyogo e Henrico se repetem, com frequência, em todos os grandes centros do Brasil. A polícia tenta se esquivar de qualquer responsabilidade pelos crimes, mas a realidade é que as vítimas de letalidade policial vêm aumentando, sobretudo entre os jovens. É dever do Estado dar o combate sistemático à criminalidade, mas sempre obedecendo aos parâmetros legais e protegendo a vida dos cidadãos.