O papa Francisco pede aos líderes do mundo que salvem a Amazônia. No mesmo discurso, ele também falou dos oceanos. São fundamentais para a nossa sobrevivência, disse o líder religioso, com uma correspondência científica certeira. Enxergar nas palavras do pontífice uma tentativa de ;recado; para uma suposta invasão ao território brasileiro é ultrajante. E essa visão se une a críticas dentro da própria Igreja Católica, que vê o Sínodo para a Amazônia, em outubro, como um das pistas para uma mudança maléfica dentro da instituição. A situação envolve muito mais do que a defesa do meio ambiente e chega a uma intricada rede de interesses políticos, econômicos e de poder dentro e fora da Igreja.
Internamente, os torpedos vêm de gente do calibre do cardeal alemão Walter Brandmüller, que fez acusações graves ao sínodo. ;É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram executados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas;, escreveu, dizendo que o documento oficial que explica o sínodo é ;herético; e uma ;apostasia;.
Neste espaço é impossível alongar a discussão ou detalhar o pensamento de Brandmüller. Basta, porém, espantar um pouco da preguiça e procurar na internet mesmo o discurso completo. Parece-me, entretanto, a visão de alguém distante temporal e fisicamente de uma realidade que urge a presença da Igreja Católica, no sentido da ajuda de corpo e alma. Um apoio que não deve ser negado a qualquer pessoa ; cristã ou não. Exemplo maior é do padre italiano Ezequiel Ramin, que 200 bispos brasileiros pedem que seja reconhecido como mártir da Amazônia.
Ramin veio ao Brasil em 1980 para o trabalho ao lado de indígenas e posseiros, por uma exploração consciente do local. Uma atuação fundamental da Igreja em nome dos menores e mais pobres, que lutam por algo que por direito era deles ; a terra ;, contra poderosos e sem a interferência do governo. O padre italiano morreu cravado de tiros, em Cacoal (RO). Defender a preservação da natureza, na Amazônia ou nos oceanos, não é moda e deve perpassar a sociedade como um todo, cristãos, muçulmanos, capitalistas, socialistas, militares e civis. É uma responsabilidade do ser humano.