A mãe gritou para a filha: ;A culpa é minha, que não te eduquei. Fui burra, mimei você, não te dei a sova que você merecia;. Em seguida, começou a bater na moça. As redes sociais vibraram com o capítulo da novela nesta semana. E eu fiquei muito triste por uma cena dessa ser levada ao ar em horário nobre na principal emissora do país. Passou a mensagem ; pelo menos foi essa a minha leitura ; de que a jovem cometeu o malfeito, seja lá qual tenha sido, porque não foi educada da forma correta, porque não apanhou.
Esse trecho da novela ; e nem vou comentar sobre a surra ; foi um desserviço para a complicada luta pela educação positiva no país. Há cinco anos está em vigor a Lei Menino Bernardo. Ela determina que ;a criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, integrantes da família ampliada, responsáveis (...);. Mesmo assim, o comum no Brasil são as agressões a meninos e meninas, sob o subterfúgio de discipliná-los, ensiná-los. E a novela, que deve ter grande audiência, surge com a reprovável cena.
Em vez de reforçar a nefasta tradição, o que nós precisamos é de uma mobilização nacional pelo fim dos castigos físicos e psicológicos contra crianças e adolescentes. Temos de nos empenhar para erradicar os métodos cruéis de ;educar;. Já houve evolução nesse sentido, não se pode negar, mas urge acelerar o processo. Além de ser uma tremenda covardia machucar vulneráveis, estudos mostram a ineficácia de usar tratamento violento para exigir obediência e respeito. E os abusos podem impactar a saúde mental das vítimas pelo resto da vida.
A tarefa de educar é realmente complicada, não existe um modelo infalível, mas a formação de um cidadão ciente dos seus direitos e deveres passa por diálogo e, principalmente, bons exemplos.
Uma publicação da Rede Não Bata, Eduque mostra a pergunta comovente de uma menina de 15 anos: ;Se não pode bater em adultos, se isso é falta de respeito, por que é certo bater nas crianças?;. Não é, nunca será. E jamais haverá justificativa plausível para fazê-lo.
Meninos e meninas não são inferiores aos adultos, não são propriedades das famílias. Eles são cidadãos com plenos direitos, inclusive à integridade física. O certo é amá-los, protegê-los e educá-los, mas com a dignidade que merecem.