O mundo assistiu, apreensivo, esta semana, a mais um embate entre os dois gigantes da economia global, Estados Unidos e China, e que acabou derrubando os mercados em todo o planeta. Os chineses deixaram de lado a postura moderada e partiram para a retaliação, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou nova taxação para os produtos importados da potência asiática, o que surpreendeu os que acreditavam que as negociações comerciais entre as duas maiores economias mundiais estavam sendo conduzidas de maneira positiva. Na verdade, a disputa entre os dois países não se resume apenas a uma guerra comercial, mas, sim, a uma questão geopolítica de fundo: quem vai dominar o mundo nas próximas décadas, uma vez que a China vem ocupando cada vez mais espaço no cenário internacional, desde que os líderes comunistas de Pequim resolveram mudar a economia chinesa para um modelo híbrido entre o capitalismo e o socialismo.
Os chineses responderam prontamente à decisão dos EUA de impor uma tarifa de 10% sobre U$ 300 bilhões em mercadorias do país asiático. Isso significa que praticamente todos os itens exportados para os Estados Unidos sejam taxados. Para tornar seus produtos mais baratos e enfrentar a taxação anunciada por Trump, a China desvalorizou sua moeda, o yuan. A medida foi duramente criticada pelos norte-americanos, que a consideraram artificial e mera manipulação cambial. As autoridades monetárias dos EUA chegaram a anunciar que buscarão, perante o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma forma para eliminar a vantagem competitiva da China criada com a desvalorização do yuan.
A potência asiática, por seu lado, decidiu ainda suspender a compra de produtos agrícolas dos Estados Unidos, o que também causou apreensão de que a guerra comercial fique mais acirrada. As empresas estatais chinesas receberam ordens do governo central para procurar em outros mercados as mercadorias que compram regularmente nos EUA. Antes do embate comercial começar, o que ocorreu logo após a posse de Trump na presidência de seu país, os chineses eram os maiores compradores da soja norte-americana, com um volume de 25 milhões a 30 milhões de toneladas por ano. Com a disputa comercial, os embarques de soja para a China caíram de 15,2 milhões de toneladas para 5,3 milhões nos primeiros cinco meses deste ano, se comparado com igual período do ano passado.
O Brasil, num primeiro momento, pode até se beneficiar com o recrudescimento da guerra comercial, pois abre-se espaço para o incremento da exportação de produtos agrícolas brasileiros para o gigante asiático. No entanto, o embate poderá trazer danos a médio e longo prazo, uma vez que, certamente, haverá uma retração da economia global. Com menos crescimento econômico mundial, os investidores viram as costas para países emergentes, como o Brasil, e se voltam para nações consideradas mais seguras. Diante da insegurança provocada pelo cenário internacional, o Brasil não pode protelar o dever de casa e conduzir com presteza e eficácia as reformas necessárias para reabrir as portas do crescimento, como vem fazendo com a previdenciária.