Agosto começou pesadíssimo para a Lava-Jato, com a clara ofensiva contra a força-tarefa por parte de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Articula-se, visivelmente, entre magistrados da Corte, a construção de uma narrativa que, mais que demonizar, pode abrir caminho para possível criminalização e destruição da megaoperação de combate à corrupção e de seus principais personagens: o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
Não à toa, na semana passada, a hashtag #STFVergonhaNacional figurou entre os assuntos mais comentados no Twitter. Mas, no próprio Supremo, houve dura reação à arremetida contra a Lava-Jato. Veio do ministro Luís Roberto Barroso, durante palestra no interior de São Paulo. ;É preciso estar atento, porque parte da agenda brasileira foi sequestrada por criminosos;, disse. E demonstrou espanto: ;É muito impressionante a quantidade de gente que está eufórica com os hackeadores, celebrando o crime. E na minha percepção, há mais fofocas do que fatos relevantes, apesar do esforço de se maximizarem esses fatos;.
Barroso não parou por aí. Ele pôs o dedo cirurgicamente na ferida e apontou o óbvio ululante, mas que colegas do tribunal fingem não enxergar: ;Se tiver alguma coisa errada, o que é certo é certo, o que é errado é errado. Porém, há um detalhe importante aqui: é que, apesar de todo o estardalhaço que está sendo feito, nada encobre o fato de que a Petrobras foi devastada pela corrupção, não importa o que saia nas gravações. (...) Nada encobre a corrupção sistêmica, estrutural e institucionalizada que houve no Brasil;.
Maior operação de combate à corrupção da história do país, a Lava-Jato pôs na cadeia alguns dos maiores ladrões de dinheiro público no Brasil. Só da Petrobras, estima-se, os criminosos de colarinho branco afanaram mais de R$ 40 bilhões. Esse dinheiro, que faz falta em hospitais, estradas, educação e segurança pública, condena brasileiros à morte e à ignorância.
Neste surpreendente início de agosto, à exceção de Barroso, os sinais que vêm do STF são de que há ministros ávidos para, com base no conteúdo ilegalmente acessado por hackers, soltar criminosos condenados pela Lava-Jato, alguns com a sentença já confirmada em até três instâncias. Bandidos que roubaram dinheiro que os brasileiros pagam em forma de impostos e, em troca, não contam sequer com um serviço público decente. E que podem, inclusive, estar por trás dos ciberataques. Afinal, é muito pouco crível que o hacker que vivia de pequenos golpes tenha, por livre e espontânea vontade, ido perder tempo e procurar encrenca invadindo, justamente, celulares de integrantes da força-tarefa que mais prendeu bandidos na história do país.
Na cruzada contra a Lava-Jato, há outro ponto crucial na agenda do STF: o possível fim da prisão em segunda instância. Em nome de um suposto garantismo que, na prática, nada mais é que a garantia de que bandidos de colarinho branco jamais serão presos enquanto puderem pagar ; ainda que com dinheiro roubado do país ; para que grandes bancas advocatícias entrem com recursos no Supremo. Se for adiante, essa iniciativa colocará o Brasil, vergonhosamente, na contramão do mundo civilizado. Voltaremos a ser o país da impunidade. O país em que o crime, realmente, compensa.