Jornal Correio Braziliense

Opinião

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Os corações e as rotativas

Terminada a Segunda Grande Guerra em 1945, não havia mais sentido nem espaço político para a permanência de Getúlio Vargas à frente no comando do Executivo. Seu longo governo, de mais de 15 anos, baseado, em parte, no chamado Estado Novo, não se enquadrava mais num mundo em que os ventos da democracia varriam as velhas e odiosas ditaduras para longe. Dessa forma, ele renunciou em outubro daquele ano, ficando pelos próximos 60 meses afastado do governo.

Durante o tempo de exílio, a popularidade de Getúlio entre as camadas mais pobres da sociedade não havia diminuído. Apesar dos protestos de intelectuais e de parte da imprensa, ele voltou a se candidatar em 1950 e venceu o pleito daquele ano com larga margem de aprovação. Seus últimos quatro anos na Presidência foram marcados por crises e protestos, vindos da classe média e, principalmente, de partidos renovadores, como a União Democrática Nacional (UDN), Partido Comunista Brasileiroo (PCB), e de jornais, como Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, Diários Associados e da Rede Tupi de Televisão, de Assis Chateaubriand.

A partir de 1953, a oposição ao governo Vargas ganhou dimensões que se arrastariam até o trágico e inesperado suicídio em agosto de 1954. O anúncio da morte de Vargas, feito, em primeira mão, pelo Repórter Esso, da Rádio Nacional, apanhou todos de surpresa, principalmente a população que, chocada com a notícia, tentou depredar os jornais que faziam críticas diárias a Getúlio.

A Tribuna de Imprensa teve problemas para circular naquele dia, assim como outros veículos de comunicação, como a Rádio Globo, que faziam oposição ao governo Vargas. As lembranças desses episódios de fúria da população contra os veículos de informação que se posicionavam contra o Getulio ficaram na memória de muitos jornalistas que viveram aqueles loucos dias.

Uma dessas testemunhas oculares dos fatos foi justamente o jornalista e fundador do Correio Braziliense Ari Cunha. Hoje, num mergulho em seus artigos depois de um ano da sua ausência, chega às mãos o seguinte texto sobre aqueles dias : ;A vida inteira me emocionei ao sentir jornal pronto para ir à rua. A rotativa sempre me trouxe o sentimento de gratidão ao ver o jornal indo para os leitores. É uma sensação indescritível ver as máquinas imprimindo ideias, fatos, fotos, história;.

Na Última Hora, de São Paulo, (um jornal de Samuel Wainer que apoiava Getúlio Vargas), cinco carros patrulhavam o periódico e seguranças guardavam o jornal. Não permitiam que o povo se aproximasse. Era revolta contra Getúlio Vargas e Samuel Wainer. Do outro lado da rua, leitores passavam e queimavam os exemplares com gesto de indignação. No dia seguinte, Gétulio dá um tiro no peito.

O mesmo povo invade o jornal e, de repente, passa da revolta à tristeza e ao choro. O povo entrava aos prantos e abraçava os jornalistas ou quem estava na frente. Foram três dias imprimindo exemplares com a notícia da morte do presidente. Toda a população desejava tomar conhecimento dos fatos.


A frase que foi pronunciada
;Ficou a prova do sentimento humano em que a batida do coração do
povo brasileiro e o pulsar das máquinas no jornal se misturavam.;

Ari Cunha,
o filósofo de Mondubim


Ari Cunha
; Missa na paróquia São Francisco de Assis, hoje, às 19h. Um ano de saudades.

Primeiros passos
; Alunos da rede pública e particular são bem-vindos ao Correio Braziliense. Muitas vezes, as professoras buscam o jornal para mostrar os passos da notícia. A prática estimula a meninada a começar o próprio jornalzinho da escola, com notícias quentes de mão em mão. É só ligar e marcar.

Novo perfil
; Em Brasília, onde a violência não chegou ao nível do Rio de Janeiro, os shoppings ainda são uma alternativa interessante para a população. Mesmo com o aumento significativo de compras pela internet, lojas mais ligadas à realidade recebem lá mesmo a encomenda que o consumidor não se importa em buscar. Segundo a Abrasce, nos 20 shoppings de Brasília, são 13,5 milhões de consumidores por mês.

Absurdo
; Por falar em shopping center, é impressionante que trabalhadores sejam obrigados a permanecer de pé durante as 8h diárias. Nos quiosques e em várias lojas é simplesmente proibido sentar.

Mãos à obra
; Agora é a hora de se trabalhar em favor das próximas eleições. Problemas de tráfego e acessos simultâneos no site do TSE que impediram que as informações sobre as eleições municipais, por exemplo, ficassem disponíveis na página do Tribunal, devem ser previstos dessa vez. As pesquisas tendenciosas com dados irreais também precisam de tratamento prévio. 2020 chegou.

Flagrante
; Pessoas idosas saíam da agência do Banco do Brasil da 504 Norte reclamando que não havia banheiro no local.


História de Brasília

Mas a eleição para vereadores é uma calamidade. Esta não é cidade para ter vereadores. Os interesses particulares sempre transformam o Legislativo municipal numa gaiola de ouro e, se a Justiça quer bem a Brasília, vete esta pretensão.
(Publicado em 26/11/1961)