Jornal Correio Braziliense

Opinião

Tempo de despertar

Primeira parte. O deputado. ;Fica aí, Maria do Rosário, fica. (...) Há poucos dias, tu me chamou de estuprador (...). E eu falei que não ia estuprar você porque você não merece;, disse, em 2003, durante discussão na Câmara. ;Pela família e pela inocência das crianças que o PT nunca respeitou, contra o comunismo, o Foro de São Paulo, e em memória do coronel Brilhante Ustra, o meu voto é sim;, afirmou, durante a votação pelo impeachment de Dilma Roussef, ao citar um torturador à época da ditadura, em 2016. ;O erro da ditadura foi torturar e não matar;, declarou, no mesmo ano. ;Eu fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas;, afirmou em 2017.

Segunda parte. O presidente. Carnaval de 2019. Um vídeo publicado em seu perfil no Twitter mostra um homem urinando sobre outro enquanto um bloco passa ao lado. ;Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população. (...) É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro;, escreveu e apagou a postagem semanas depois. ;Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão;, disse, sem perceber que o microfone estava aberto. ;Eu fui no casamento do meu filho. A minha família que tinha vindo do Vale do Ribeira estava comigo. Eu vou negar o helicóptero e mandar ir de carro?;, sobre a carona no helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) a parentes que foram ao casamento do deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Anteontem, mais uma menção à ditadura: ;Um dia, se o presidente da OAB (Felipe Santa Cruz) quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto para ele;. Decoro, bom senso, respeito à memória e à cultura do Brasil, combate à xenofobia. Tudo o que um presidente da República precisa ser parece ter sido relegado ao esquecimento. Quem ocupa o Planalto deveria representar toda uma nação sem alimentar a polarização. Sobretudo, deveria ter a noção da grandeza do cargo. Algo muito acima de qualquer ideologia ou fervor militarista. Nos últimos sete meses, o ;mito; disparou retórica virulenta, propôs políticas atabalhoadas e tomou decisões polêmicas, enquanto o Brasil tem afundado na crise e no desemprego. Que Deus cale o ódio de todos aqueles que se dizem patriotas. Que a nação não se deixe mergulhar nas trevas.