O filósofo conservador irlandês Edmundo Burke é responsável por uma frase que deveria ser repetida diariamente por todos nós: ;Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la;. A reprodução dela aqui não tem nada de ideológico, mas humano e social, para salientar a violência e a falta de atenção dos quais os indígenas são vítimas. No mais recente caso, a invasão a aldeia indígena Waiãpi, no Amapá, por garimpeiros armados. Isso ocorreu antes, principalmente em Minas Gerais. É nossa responsabilidade ; do governo e da sociedade, em geral ; olhar para essa situação e agir para que a triste história de matança não se repita.
Há consenso entre historiadores ; e cito aqui estudos de especialistas como Manuela Carneiro da Cunha, Carlos Fausto e Eduardo Natalino ; de que a população indígena no território brasileiro chegava a 8 milhões em 1500. Hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número, em 2010, era de apenas 800 mil. E uma das causas de tantas mortes veio da corrida pelo ouro, entre Minas, Goiás e o sul da Bahia. ;Os conflitos oriundos do encontro colonizador-índio, incitados pela ocupação do solo, não resultaram somente nas mortes de ambos os lados, mas na extinção física do indígena ; o genocídio ;, na transformação da identidade até a morte da cultura, da língua de muitos deles ; o etnocídio;, ensina a historiadora Núbia Braga Ribeiro.
Visitei museus e minas em Ouro Preto e Belo Horizonte, neste último mês, não só porque a gastronomia é excelente, mas principalmente para mostrar um pouco da história brasileira para meu filho de 10 anos. E é assustador ler e ouvir, in loco, o que negros escravizados e indígenas passaram, seja no garimpo, seja em plantações, até o século 18. E vendo números do mapa da violência e casos como o do Amapá, é ainda mais triste e revoltante enxergar que essa matança continua. No caso das tribos em regiões tão remotas, a pergunta é inevitável: vamos fechar realmente os olhos e deixar um povo ser dizimado? Que civilização é essa?
Em uma das visitas, o rapaz que nos mostrava o local contou histórias escabrosas das torturas, da escravidão, da morte de pessoas. Quem virava o rosto, balançava negativamente a cabeça. ;É triste, não é? Mas é preciso saber disso para que a gente não repita esse erro;, disse o jovem. Por isso, nós, cidadãos, devemos gritar pela proteção dos indígenas. E o governo precisa agir de forma dura para evitar que genocídios e etnocídios desse tipo continuem a ocorrer.