Primeiro, o PT dividiu o país com a política do nós contra eles. O inimigo principal sempre foi o jornalismo independente. Nas redes sociais, robôs e um exército de mercenários a soldo transformaram a imprensa profissional no ;partido da mídia golpista;. Além de produzir fake news em profusão, o aparato tinha alvos específicos: agia para destruir a reputação de quem quer que não se curvasse ao petismo. Foram muitas as vítimas. Miriam Leitão, certamente, a mais emblemática delas. Depois da perseguição de sectários de esquerda, a premiada jornalista enfrenta agora a ira ainda mais radical de fanáticos de direita.
Na prática, os dois extremos se igualam na truculência contra a liberdade de expressão, sem a qual não existe democracia. Eles não toleram oposição nem divergência. Tanto que, nas ditaduras, seja de esquerda, seja de direita, a liberdade de expressão é a primeira a ir pro brejo. A diferença é que, desde a eleição do ano passado no Brasil, a direita fascista também passou a ter forte atuação nas redes sociais, território antes restrito a totalitários de esquerda, que viviam a defender e a exaltar regimes truculentos, como o de Chávez, na Venezuela.
Quando se avalia o cenário político-econômico, constata-se que a atuação do Brasil, herança dos desacertos petistas, só não é pior porque, hoje, a maioria dos parlamentares no Congresso age ; até mesmo contrariando orientações sectárias de partidos ; para aprovar reformas com a intenção de tirar o país da crise. Se dependesse da atuação beligerante e desastrada de Bolsonaro, a PEC da Previdência, por exemplo, estaria enterrada. Segue viva devido ao empenho pessoal do ministro Paulo Guedes e equipe e, sobretudo, do grande poder de articulação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Goste-se ou não do deputado fluminense, no momento ele parece mais o chefe de governo do que o próprio presidente da República, de quem foi alvo de diversos ataques. Na falta de oposição ; que tem poder de fogo restrito no Congresso e só causa estragos quando se une à extrema direita em defesa de privilégios corporativistas ;, Bolsonaro tem se especializado em dar tiros no próprio pé, como a estúpida e preconceituosa declaração em que se refere a governadores do Nordeste como ;paraíbas;. Nas redes sociais, não há trégua à vista: a guerra eleitoral dos radicais nunca para, só aumenta. Quer vença a truculência de direita ou de esquerda, o país só tem perder. E o pior é que parece não haver salvação no horizonte. Para o Brasil real, que luta pela sobrevivência a cada dia, a vida está cada vez mais difícil, cada vez mais inglória.