Jornal Correio Braziliense

Opinião

>> Sr. Redator


Pensionista

A reforma da Previdência, aprovada em primeira votação, pela Câmara dos Deputados, reduz pela metade o valor da pensão por morte. Parece ser um simples detalhe da reforma, porém constitui uma grave injustiça aos pensionistas, muitas vezes inviabilizando a vida do cônjuge sobrevivente. As viúvas serão as mais prejudicadas, porque representam cerca de 80% dos pensionistas, em sua grande maioria, mães, avós ou bisavós entre 60 e 90 anos de idade. Como a expectativa de vida da mulher brasileira é 79,5 anos, oito anos maior do que a do homem, serão em média oito anos que a viúva tentará viver com uma minguada pensão. O corte de 50% se baseia no raciocínio pouco inteligente, segundo o qual as despesas da viúva passariam a ser a metade dos gastos do casal. Nada mais falso. A redução das despesas limita-se apenas aos itens alimentação, locomoção e vestuário. Os demais permanecem inalterados, como moradia/aluguel, IPTU, água, energia, tevê, telefone, além dos dispêndios com a saúde, que são crescentes em razão da progressividade da velhice e do péssimo atendimento do SUS. O adicional de 10% por dependente não alcançará a grande maioria das viúvas, pois é pouco provável que, a partir dos seus 60 anos, tenham algum filho menor de idade. Obviamente, não são as velhinhas as responsáveis pelo deficit da Previdência. Deputados e senadores devem atentar para outras causas, como a má gestão do INSS, o elevado volume de fraudes, as isenções de contribuição, a Previdência rural, a absurda renúncia fiscal, os desvios de recursos via DRU, a falta de cobrança da dívida decorrente de bilhões de contribuições sonegadas por bancos, empresas, empreiteiras, CEF, Banco do Brasil, ECT e, por incrível que pareça, por partidos políticos.
; Cid Lopes
Lago Sul


Atraso

Florestan Fernandes costumava dizer que temos preconceito de ter preconceito. Por isso fazíamos de conta que éramos uma democracia racial, que aceitávamos com naturalidade gays e lésbicas, que éramos pacíficos e cordiais. No fundo, não queríamos ver a realidade. Orgulhosos que somos, imaginávamos ter construído uma sociedade ideal, tolerante e progressista. O presidente Bolsonaro, com a naturalidade de quem anda pra frente, tirou a nossa máscara. O decreto das armas, a aceitação do trabalho infantil, a flexibilização das regras de trânsito, a indicação do filho para a embaixada em Washington são exemplos de que continuamos no Brasil colonial. A modernidade era fachada.
; Carmem Célia,
Asa Sul


Diplomacia
Tenho lido aqui e ali sobre a crescente irrelevância da diplomacia tradicional, mais conhecida por punhos de renda. O mundo hoje pratica a agressiva diplomacia presidencial. O chefe de Estado virou caixeiro-viajante. Escolhe este ou aquele destino para fazer negócios. Vende os produtos da sua pauta de exportações e compra produtos do país visitado. Talvez essa realidade explique a escolha de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington. Ele será um reizinho, como são os embaixadores, com uma corte qualificada para lhe satisfazer os desejos e caprichos. Tudo pago em dólares e regado a champanhe. Tim-tim.
; Paula Saraiva,
Lago Norte


; Não creio que o presidente Jair Bolsonaro esteja falando sério, quando anuncia que pretende nomear o filho Eduardo embaixador do Brasil em Washington. Ele foi muito severo, durante a campanha eleitoral, que não admitiria privilégios, que combateria com rigor a corrupção. Ora, a prática do nepotismo não deixa de ser uma das facetas da corrupção. Um rapaz que sabe fazer hambúrguer e é amigo dos filhos do ensandecido do Donald Trump não está credenciado a ser o representante da nação brasileira no mais importante país do mundo. Levando em conta as sucessivas gafes do presidente dentro e fora do país, só posso supor que esse debate é mais um deboche ou uma tática diversionista para desviar a atenção dos brasileiros do conteúdo da reforma da Previdência, aprovada pela Câmara. As mudanças redundarão em graves danos, principalmente aos jovens que estão fora ou recém-ingressaram no mercado de trabalho. A esperança é de que o Senado Federal, caso presidente não esteja brincando, rejeite a indicação e recolha o deputado Eduardo Bolsonaro ao seu devido lugar, até em homenagem ao Barão do Rio Branco e aos grandes mestres da diplomacia brasileira, reconhecidos mundialmente. O Brasil não merece esse vexame.
; Mário Henrique Duarte,
Park Way


Fé e Estado
O bispo Martinho Lutero foi excomungado e expulso da Igreja Católica (a primeira, após Jesus Cristo), por ter discordado do papa Leão X sobre a compra (indulgência) de pecados, pela Igreja, o que se denominou de remição ou perdão, ou seja, o pecador seria anistiado pagando certa importância, segundo o número de pecados cometidos. Com isso Lutero, irresignado, fundou a religião que se denominou Luterana. A Constituição Federal do Brasil adotou o sistema laico (doutrina que reclama a laicidade absoluta das instituições social, política e cultural que, pelo menos reclama, para essas autonomias face à religião, Dicionário Aurélio). E no preâmbulo, os constituintes rogaram a proteção de Deus para promulgá-la. Em vários tópicos do capítulo sobre os diretos e garantias fundamentais, assegura a liberdade sobre crença religiosa e o exercício de cultos. Agora, o presidente vem a público e declara que nomeará para o Supremo Tribunal Federal, um evangélico. Isso vem à lume porque o Supremo, com maioria católica, entendeu que a homofobia é crime. Ocorre que tal pensamento em nada influirá nos julgamentos diante do que preconiza a Constituição Federal.
; José Lineu de Freitas,
Asa Sul