Jornal Correio Braziliense

Opinião

O que vale a nossa luta

Das imagens da manifestação de domingo em apoio ao governo, algumas me chamaram a atenção: vi faixas em defesa da liberação de armas. O que impulsionou parte dos cidadãos a sair de casa e pressionar o Congresso foi o direito ao acesso a armamento! Gente, nós temos crianças passando fome aqui no DF. Estamos falando de uma área que comporta a capital federal. Imagine como está o drama país afora.

A nossa luta, a pressão que devemos fazer nos Três Poderes, e não apenas no Legislativo, é para que todos os brasileiros tenham assegurados os direitos básicos ; estou falando de direitos básicos, de fato. Precisamos ser mais solidários, nos colocar no lugar do outro, sentir sua dor. É em nome do bem-estar dos mais vulneráveis que deveríamos travar nossas batalhas, isso, sim, tinha de nos impulsionar a sair de casa e nos manifestar, com absoluta prioridade para a defesa das crianças.

É um problema de todos nós o desrespeito sistemático aos direitos delas. O artigo 227 da Constituição determina: ;É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão;.

Um texto bonito, mas ignorado diariamente. O principal violador é o Estado. Criança nunca foi prioridade no Brasil e, infelizmente, parece que assim continuará. Num país em que o próprio governante faz apologia à crueldade, à desumanidade do trabalho infantil, a nossa luta se torna ainda mais emergencial. E aqui não cabe falar em direita ou esquerda. A pauta é humanitária. Crianças têm de se alimentar bem, morar num local digno, ter educação de qualidade, receber amor e carinho, se divertir.

Na mesma manifestação que mencionei no início deste texto, uma faixa me emocionou muito. Estava escrito: ;Garoto Rhuan vive;. Parabéns a quem a levou. A atrocidade cometida contra essa criança não pode ser esquecida. Rhuan foi martirizado durante cinco anos e pagou com a vida, de uma forma atroz, porque cidadãos, Justiça, Estado, enfim, falharam com ele.

Todos nós podemos lutar contra barbáries assim, se cada um fizer a sua parte. Defesa dos direitos das crianças: essa, sim, é uma bandeira que vale a pena defender. Mais do que um dever, é uma questão de humanidade.